Crise na Ucrânia

Principais acontecimentos na Ucrânia desde final de novembro de 2013

A deposição do Presidente ucraniano pró-russo Viktor Ianukovich em fevereiro foi o culminar de três meses de violentos protestos em Kiev liderados pelas forças da oposição. Depois da queda de Ianukovich, forças apoiadas pelo Kremlin assumiram o controlo da península da Crimeia, que se tornou no foco do mais grave conflito entre leste e ocidente desde o final da Guerra Fria. A Rússia anexou a Crimeia depois de um referendo em que 96,77% dos eleitores da república autónoma ucraniana aprovaram uma união com a Federação Russa.

Cronologia dos principais acontecimentos da crise na Ucrânia desde final de novembro de 2013:  

Novembro 

21: Governo ucraniano suspende as negociações sobre um acordo de associação  com a UE e decide relançar as relações económicas com Moscovo. A oposição  pró-europeia sai à rua, em protesto. 

24: Dezenas de milhares de pessoas manifestam-se na Praça da Independência,  também conhecida como Maidan, epicentro da chamada "Revolução Laranja" (2004-2005).  Concentrações em várias outras cidades ucranianas. 

30: Polícia antimotim dispersa violentamente uma manifestação na Praça  da Independência, fazendo dezenas de feridos, principalmente estudantes.  Oposição exige a demissão do chefe de Estado e eleições antecipadas, denunciando  aquilo que consideram ser um endurecimento do regime. 

Dezembro

1: Entre 200 mil e 500 mil pessoas concentram-se em Maidan, onde  milhares de opositores montam tendas e barricadas. Cerca de 300 feridos  em confrontos em frente à sede da administração presidencial. Centenas de  militantes da oposição ocupam a câmara municipal de Kiev.   

8: Após nova manifestação, que concentrou centenas de milhares de  pessoas em Kiev, um grupo de opositores nacionalistas derruba uma estátua  de Lenine, no centro da capital. 

11: Quando a secretária de Estado adjunta dos EUA, Victoria Nuland,  e a chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton, estão em Kiev, a polícia  lança um assalto a Maidan, para tentar expulsar os manifestantes. A operação  falha. 

17: Em visita à Rússia, Ianukovich obtém um crédito de 15 mil milhões  de dólares e uma descida do preço do gás russo, de que a Ucrânia depende.  Oposição acusa o Presidente de ter "vendido o país ao desbarato", mas parece  desconcertada com o acordo.  

25: Tetiana Chornovil, jornalista da publicação digital Ukrainska  Pravda, conhecida por artigos muito críticos de Ianukovich, é agredida selvaticamente  por desconhecidos. A agressão, que suscita a mobilização dos manifestantes  pró-europeus em Maidan, é condenada no Ocidente.  

Janeiro 

19: Cerca de 200 mil opositores concentram-se na Praça da Independência,  dois dias após a adoção de novas leis que reforçam as sanções contra os  manifestantes. Pela primeira vez, a multidão lança apupos contra os líderes  da oposição, que acusa de não terem qualquer plano de ação. Nas proximidades  do local e após o protesto, manifestantes e a polícia confrontam-se mais  uma vez, o que resulta em dezenas de feridos nos dois lados. Confrontos  continuam nos dias seguintes. 

22: A polícia lança um assalto contra manifestantes entrincheirados  nas barricadas erguidas nas proximidades de Maidan. Oposição afirma que  dois manifestantes foram mortos, mas Ministério do Interior só confirma  um.  

23: Pela primeira vez desde que se iniciaram os confrontos, a oposição,  liderada pelo antigo pugilista e candidato à presidência Vitali Klitschko,  pede uma trégua para negociar com o poder, respeitada pelos dois lados.

24: Manifestantes expandem o campo de protesto e as barricadas em  Kiev, depois de as negociações entre a oposição e o Presidente terem fracassado.  Ativistas ocupam Ministério da Agricultura, no centro de Kiev.  

25: Ianukovich oferece um lugar no Governo aos líderes da oposição  Arseni Iatseniuk e Vitali Klitschko, mas estes recusam. 

26: Protestos espalham-se por todo o país, incluindo zonas mais nacionalistas  e consideradas pró-Rússia. 

28: Primeiro-ministro Mikola Azarov demite-se. 

29: Parlamento aprova amnistia para manifestantes, mas oposição rejeita  as condições impostas, que incluem retirada de Maidan. 

Fevereiro 

2: Iatseniuk e Klitschko apelam à mediação internacional do conflito  e pedem ajuda financeira ao Ocidente. 

3: União Europeia, Estados Unidos e Fundo Monetário Internacional  dizem estar disponíveis para prestar assistência económica à Ucrânia, apenas  quando o governo ucraniano começar a adotar reformas políticas. 

7: Ianukovich encontra-se com o Presidente russo, Vladimir Putin.

9: Cerca de 70 mil pessoas continuam concentradas na Praça da Independência.

14: Todos os 234 manifestantes detidos desde dezembro são libertados.

16: Manifestantes abandonam a câmara de Kiev e outros edifícios públicos  que tinham ocupado.  

17: Governo promete amnistia para manifestantes detidos. Rússia anuncia  apoio financeiro de dois mil milhões de dólares à Ucrânia. 

18: Pelo menos nove pessoas, sete civis e dois polícias, são mortas  no mais sangrento dia de confrontos em três meses de protestos. Manifestantes  voltam a ocupar edifício da câmara de Kiev. Governo ucraniano lança ultimato  aos manifestantes para desmobilizarem das ruas da capital. Forças de segurança  ucranianas atacam manifestantes concentrados na Praça da Independência.

8-20: Vaga de violência em Kiev. Pelo menos 82 mortos, incluindo 15  polícias, na maioria atingidos por atiradores furtivos.  

21: Uma delegação de alto nível da UE negoceia com o poder e a oposição  um acordo para a saída da crise através de um governo de "unidade nacional"  e eleições antecipadas.  

22: O parlamento decide a destituição de Viktor Ianukovich e anuncia  eleições presidenciais antecipadas para 25 de maio. 

23: Presidente do parlamento, Oleksandr Turchinov, eleito presidente  interino.  

26: Arseni Iatseniuk é designado, também pelo parlamento, primeiro-ministro  do governo de transição. Moscovo contesta a legitimidade do novo poder.  Confrontos entre manifestantes pró e anti-russos em Simferopol, capital  da Crimeia,  

27: O parlamento regional da Crimeia, controlado por um comando pró-russo,  vota a organização em 30 de março de um referendo para ampliar a autonomia.

28: Kiev acusa Moscovo de "invasão armada e ocupação" da Crimeia após  dois aeroportos, em Belbek e Simferopol, ficarem sob o controlo de soldados  e que são identificados como membros das forças russas. 

Refugiado na Rússia, o ex-presidente Ianukovich, alvo de um mandado  de captura emitido pelos novos líderes ucranianos por "mortes em massa",  afirma ser "o presidente legítimo".  

Março

1: O Conselho da Federação (Senado) da Rússia aprova um pedido de intervenção  militar na Ucrânia.  

2: Iatseniuk considera que a Ucrânia está "à beira da catástrofe" após  a "declaração de guerra" russa.  

3: Os Estados Unidos suspendem a cooperação militar com a Rússia.  

4: O Presidente russo, Vladimir Putin, desmente qualquer envolvimento  russo e denuncia um "golpe de Estado" contra Viktor Ianukovich, considerando  "não ser necessário de momento" uma intervenção militar, apesar de Moscovo  se reservar no direito de recorrer a "todos os meios" para proteger os seus  cidadãos. O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, considera que estas  declarações "não enganam ninguém".  

5: Fontes militares ucranianas denunciam que forças russas assumiram  o controlo parcial de duas bases de lançamento de mísseis na Crimeia, em  Fiolent e Evpatoria.  

Pressionado por milicianos pró-russos, o enviado especial da ONU à Crimeia  decide abreviar a sua missão.  

A NATO reforça a cooperação com a Ucrânia e reexamina os seus acordos  com a Rússia.  

Encontro em Paris dos chefes da diplomacia norte-americana e russa,  John Kerry e Serguei Lavrov, que prosseguem no dia seguinte em Roma mas  sem resultados imediatos.  

A Comissão Europeia anuncia um plano de ajuda à Ucrânia de 11 mil milhões  de euros.  

6: O conselho municipal de Sebastopol (sudoeste da Crimeia e onde se  situa a base naval russa) solicita a adesão à Rússia, enquanto o parlamento  da região autónoma anuncia um referendo para 16 de março.  

Quarenta observadores militares da Organização para a Segurança e Cooperação  na Europa (OSCE) são impedidos de entrar na Crimeia.  

Washington impõe restrições de vistos a Moscovo e ameaça congelar os  bens de diversos responsáveis.  

A UE decide as primeiras sanções contra Moscovo ao suspender negociações  sobre vistos e ameaça com sanções mais severas, incluindo económicas. Bruxelas  afirma pretender assinar o acordo de Associação com Kiev antes das eleições  ucranianas de 25 de maio e congela os bens de 18 responsáveis do regime  de Ianukovich, incluindo o presidente deposto. 

Kiev desencadeia um processo para a dissolução do parlamento da Crimeia.

8: As autoridades de Kiev anunciam um novo "assalto" de forças russas  a um posto de guardas fronteiriços na Crimeia.  

Observadores da OSCE voltam a ser proibidos de entrar na Crimeia por  milícias locais.  

9: Na sequência de conversas telefónicas com a chanceler alemã, Angela  Merkel, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, o Presidente russo  defende o direito da Crimeia se unificar com a Rússia, mas afirma que procura  uma "solução diplomática" para a crise ucraniana.  

10: Uma sondagem do Focus-Grupp, citada pelo presidente do parlamento  autónomo Vladimir Konstantinov, não reconhecido por Kiev, revela que 80%  da população da Crimeia é favorável à união da península com a Rússia. 

11: Os deputados do parlamento regional proclamam a independência da  península a face à Ucrânia. O precedente do Kosovo é um dos argumentos invocados  para justificar esta decisão, na perspetiva do direito internacional.  

12: O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, anuncia  que os dirigentes dos países ocidentais do G7 apelaram à Rússia para que  cesse todas as suas ações destinadas a "anexar" a Crimeia, para além de  não reconhecerem os resultados do referendo de 16 de fevereiro.  

13: A Ucrânia anuncia a formação de uma Guarda nacional para reforçar  a sua defesa face à Rússia, que prossegue exercícios junto à fronteira comum  sob a vigilância de aviões da NATO.  

Lusa

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