Cronologia dos principais acontecimentos da crise na Ucrânia desde final de novembro de 2013:
Novembro
21: Governo ucraniano suspende as negociações sobre um acordo de associação com a UE e decide relançar as relações económicas com Moscovo. A oposição pró-europeia sai à rua, em protesto.
24: Dezenas de milhares de pessoas manifestam-se na Praça da Independência, também conhecida como Maidan, epicentro da chamada "Revolução Laranja" (2004-2005). Concentrações em várias outras cidades ucranianas.
30: Polícia antimotim dispersa violentamente uma manifestação na Praça da Independência, fazendo dezenas de feridos, principalmente estudantes. Oposição exige a demissão do chefe de Estado e eleições antecipadas, denunciando aquilo que consideram ser um endurecimento do regime.
Dezembro
1: Entre 200 mil e 500 mil pessoas concentram-se em Maidan, onde milhares de opositores montam tendas e barricadas. Cerca de 300 feridos em confrontos em frente à sede da administração presidencial. Centenas de militantes da oposição ocupam a câmara municipal de Kiev.
8: Após nova manifestação, que concentrou centenas de milhares de pessoas em Kiev, um grupo de opositores nacionalistas derruba uma estátua de Lenine, no centro da capital.
11: Quando a secretária de Estado adjunta dos EUA, Victoria Nuland, e a chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton, estão em Kiev, a polícia lança um assalto a Maidan, para tentar expulsar os manifestantes. A operação falha.
17: Em visita à Rússia, Ianukovich obtém um crédito de 15 mil milhões de dólares e uma descida do preço do gás russo, de que a Ucrânia depende. Oposição acusa o Presidente de ter "vendido o país ao desbarato", mas parece desconcertada com o acordo.
25: Tetiana Chornovil, jornalista da publicação digital Ukrainska Pravda, conhecida por artigos muito críticos de Ianukovich, é agredida selvaticamente por desconhecidos. A agressão, que suscita a mobilização dos manifestantes pró-europeus em Maidan, é condenada no Ocidente.
Janeiro
19: Cerca de 200 mil opositores concentram-se na Praça da Independência, dois dias após a adoção de novas leis que reforçam as sanções contra os manifestantes. Pela primeira vez, a multidão lança apupos contra os líderes da oposição, que acusa de não terem qualquer plano de ação. Nas proximidades do local e após o protesto, manifestantes e a polícia confrontam-se mais uma vez, o que resulta em dezenas de feridos nos dois lados. Confrontos continuam nos dias seguintes.
22: A polícia lança um assalto contra manifestantes entrincheirados nas barricadas erguidas nas proximidades de Maidan. Oposição afirma que dois manifestantes foram mortos, mas Ministério do Interior só confirma um.
23: Pela primeira vez desde que se iniciaram os confrontos, a oposição, liderada pelo antigo pugilista e candidato à presidência Vitali Klitschko, pede uma trégua para negociar com o poder, respeitada pelos dois lados.
24: Manifestantes expandem o campo de protesto e as barricadas em Kiev, depois de as negociações entre a oposição e o Presidente terem fracassado. Ativistas ocupam Ministério da Agricultura, no centro de Kiev.
25: Ianukovich oferece um lugar no Governo aos líderes da oposição Arseni Iatseniuk e Vitali Klitschko, mas estes recusam.
26: Protestos espalham-se por todo o país, incluindo zonas mais nacionalistas e consideradas pró-Rússia.
28: Primeiro-ministro Mikola Azarov demite-se.
29: Parlamento aprova amnistia para manifestantes, mas oposição rejeita as condições impostas, que incluem retirada de Maidan.
Fevereiro
2: Iatseniuk e Klitschko apelam à mediação internacional do conflito e pedem ajuda financeira ao Ocidente.
3: União Europeia, Estados Unidos e Fundo Monetário Internacional dizem estar disponíveis para prestar assistência económica à Ucrânia, apenas quando o governo ucraniano começar a adotar reformas políticas.
7: Ianukovich encontra-se com o Presidente russo, Vladimir Putin.
9: Cerca de 70 mil pessoas continuam concentradas na Praça da Independência.
14: Todos os 234 manifestantes detidos desde dezembro são libertados.
16: Manifestantes abandonam a câmara de Kiev e outros edifícios públicos que tinham ocupado.
17: Governo promete amnistia para manifestantes detidos. Rússia anuncia apoio financeiro de dois mil milhões de dólares à Ucrânia.
18: Pelo menos nove pessoas, sete civis e dois polícias, são mortas no mais sangrento dia de confrontos em três meses de protestos. Manifestantes voltam a ocupar edifício da câmara de Kiev. Governo ucraniano lança ultimato aos manifestantes para desmobilizarem das ruas da capital. Forças de segurança ucranianas atacam manifestantes concentrados na Praça da Independência.
8-20: Vaga de violência em Kiev. Pelo menos 82 mortos, incluindo 15 polícias, na maioria atingidos por atiradores furtivos.
21: Uma delegação de alto nível da UE negoceia com o poder e a oposição um acordo para a saída da crise através de um governo de "unidade nacional" e eleições antecipadas.
22: O parlamento decide a destituição de Viktor Ianukovich e anuncia eleições presidenciais antecipadas para 25 de maio.
23: Presidente do parlamento, Oleksandr Turchinov, eleito presidente interino.
26: Arseni Iatseniuk é designado, também pelo parlamento, primeiro-ministro do governo de transição. Moscovo contesta a legitimidade do novo poder. Confrontos entre manifestantes pró e anti-russos em Simferopol, capital da Crimeia,
27: O parlamento regional da Crimeia, controlado por um comando pró-russo, vota a organização em 30 de março de um referendo para ampliar a autonomia.
28: Kiev acusa Moscovo de "invasão armada e ocupação" da Crimeia após dois aeroportos, em Belbek e Simferopol, ficarem sob o controlo de soldados e que são identificados como membros das forças russas.
Refugiado na Rússia, o ex-presidente Ianukovich, alvo de um mandado de captura emitido pelos novos líderes ucranianos por "mortes em massa", afirma ser "o presidente legítimo".
Março
1: O Conselho da Federação (Senado) da Rússia aprova um pedido de intervenção militar na Ucrânia.
2: Iatseniuk considera que a Ucrânia está "à beira da catástrofe" após a "declaração de guerra" russa.
3: Os Estados Unidos suspendem a cooperação militar com a Rússia.
4: O Presidente russo, Vladimir Putin, desmente qualquer envolvimento russo e denuncia um "golpe de Estado" contra Viktor Ianukovich, considerando "não ser necessário de momento" uma intervenção militar, apesar de Moscovo se reservar no direito de recorrer a "todos os meios" para proteger os seus cidadãos. O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, considera que estas declarações "não enganam ninguém".
5: Fontes militares ucranianas denunciam que forças russas assumiram o controlo parcial de duas bases de lançamento de mísseis na Crimeia, em Fiolent e Evpatoria.
Pressionado por milicianos pró-russos, o enviado especial da ONU à Crimeia decide abreviar a sua missão.
A NATO reforça a cooperação com a Ucrânia e reexamina os seus acordos com a Rússia.
Encontro em Paris dos chefes da diplomacia norte-americana e russa, John Kerry e Serguei Lavrov, que prosseguem no dia seguinte em Roma mas sem resultados imediatos.
A Comissão Europeia anuncia um plano de ajuda à Ucrânia de 11 mil milhões de euros.
6: O conselho municipal de Sebastopol (sudoeste da Crimeia e onde se situa a base naval russa) solicita a adesão à Rússia, enquanto o parlamento da região autónoma anuncia um referendo para 16 de março.
Quarenta observadores militares da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) são impedidos de entrar na Crimeia.
Washington impõe restrições de vistos a Moscovo e ameaça congelar os bens de diversos responsáveis.
A UE decide as primeiras sanções contra Moscovo ao suspender negociações sobre vistos e ameaça com sanções mais severas, incluindo económicas. Bruxelas afirma pretender assinar o acordo de Associação com Kiev antes das eleições ucranianas de 25 de maio e congela os bens de 18 responsáveis do regime de Ianukovich, incluindo o presidente deposto.
Kiev desencadeia um processo para a dissolução do parlamento da Crimeia.
8: As autoridades de Kiev anunciam um novo "assalto" de forças russas a um posto de guardas fronteiriços na Crimeia.
Observadores da OSCE voltam a ser proibidos de entrar na Crimeia por milícias locais.
9: Na sequência de conversas telefónicas com a chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, o Presidente russo defende o direito da Crimeia se unificar com a Rússia, mas afirma que procura uma "solução diplomática" para a crise ucraniana.
10: Uma sondagem do Focus-Grupp, citada pelo presidente do parlamento autónomo Vladimir Konstantinov, não reconhecido por Kiev, revela que 80% da população da Crimeia é favorável à união da península com a Rússia.
11: Os deputados do parlamento regional proclamam a independência da península a face à Ucrânia. O precedente do Kosovo é um dos argumentos invocados para justificar esta decisão, na perspetiva do direito internacional.
12: O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, anuncia que os dirigentes dos países ocidentais do G7 apelaram à Rússia para que cesse todas as suas ações destinadas a "anexar" a Crimeia, para além de não reconhecerem os resultados do referendo de 16 de fevereiro.
13: A Ucrânia anuncia a formação de uma Guarda nacional para reforçar a sua defesa face à Rússia, que prossegue exercícios junto à fronteira comum sob a vigilância de aviões da NATO.
Lusa