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Estradas: Futura A26 entre Sines e Beja vai cortar ao meio herdade que produz dos melhores azeites do mundo

Ferreira do Alentejo, Beja, 29 mar (Lusa) - O traçado da futura autoestrada 26, em construção entre Sines e Beja, vai atravessar e cortar ao meio uma herdade de olival que produz dos melhores azeites do mundo, queixou-se hoje o proprietário, lamentando os impactos no negócio.

Luís Lourenço

Ferreira do Alentejo, Beja, 29 mar (Lusa) - O traçado da futura autoestrada 26, em construção entre Sines e Beja, vai atravessar e cortar ao meio uma herdade de olival que produz dos melhores azeites do mundo, queixou-se hoje o proprietário, lamentando os impactos no negócio.

O troço da autoestrada, conhecida como novo Itinerário Principal 8, vai "atravessar e cortar ao meio" a Quinta de São Vicente, em Ferreira do Alentejo, no distrito de Beja, com 700 hectares de olival em produção integrada e gerida pela empresa Taifas, criada pela nova geração da família portuguesa Passanha, com tradição na produção de azeite desde 1738.

A notícia de que a estrada vai dividir a herdade foi hoje avançada pelo jornal Público.

Segundo explicou à Lusa o administrador da Taifas, João Filipe Passanha a estrada vem "roubar" uma parcela de terreno com três quilómetros de comprimento, implicar o abate de seis mil oliveiras, cortar caminhos construídos para levar a produção do olival até ao lagar e destruir infraestruturas, sobretudo de rega do Alqueva e da quinta, que "custaram milhões de euros".

No entanto, "o mais grave e preocupante é o impacto negativo no prestígio e na imagem do azeite junto dos clientes estrangeiros", disse, lembrando que 87 por cento das 800 toneladas de azeite produzidas em 2010 foram exportados para 18 países.

"É complicando vender a clientes estrangeiros, que são muito exigentes, um azeite de alta gama que é produzido numa herdade com uma autoestada no meio", disse, referindo que a empresa vai ter "um impacto negativo muito forte em termos económicos".

A reconstrução das infraestruturas "é o Estado que paga", mas "a exploração da herdade partida por uma autoestrada vai tornar-se mais cara", disse, referindo que a empresa vai "pedir uma indemnização nesse sentido".

A indemnização proposta pela expropriação "é inaceitável", porque "nem por sombras cobre o valor real da parcela de terreno afetada e é inferior ao preço atual de mercado do olival", disse, referindo que advogados especializados no tema "já estão a tratar do assunto".

Em 2004, quando começou a delinear o projeto da Quinta de São Vicente, juntamente com familiares e que implicou um investimento de 17 milhões de euros, João Filipe Passanha não sabia que o traçado da estrada iria passar pela herdade.

"Foi uma surpresa negativa. Se soubesse não teria feito o investimento que fiz", disse, referindo que pediu a uma empresa um estudo do impacto da passagem da autoestada pela herdade sobre o projeto, que foi enviado para várias entidades públicas, mas não obteve resposta.

A Estradas de Portugal "preocupou-se apenas com os impactos ambientais e ignorou os impactos económicos e todas as explorações afetadas", disse João Filipe Passanha, referindo que "o traçado da autoestrada vai sempre ao pé e paralelo ao atual IP8", o que "vai deixar centenas de hectares entre as estradas praticamente inutilizados".

Os azeites produzidos na Quinta de São Vicente já conquistaram vários prémios, tendo o azeite virgem extra Dom Diogo recebido uma medalha de ouro na edição do ano passado dos prémios Mário Solinas, atribuídos pelo Conselho Oleícola Internacional.

A Lusa procurou obter hoje uma resposta às criticas por parte da Estradas de Portugal, que remeteu a reação para mais tarde.





LL.

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