Luís Montenegro anunciou, na passada quinta-feira, uma descida de impostos de 1.500 milhões de euros no IRS ainda este ano, mas afinal trata-se apenas de um acrescento de 200 milhões de euros aos 1.300 milhões já em vigor. Paulo Baldaia, afirma que o Governo "tinha a intenção de deixar que corresse esta ambiguidade”.
“O Governo podia e teve muitas oportunidades” de ser mais claro "a explicar que o choque fiscal que vinha falando, na campanha eleitoral e que o Primeiro-Ministro apresentou como estando para ser decidido esta semana em Conselho de Ministros, era afinal aquilo a que a Iniciativa Liberal chama um retoque fiscal”
O comentador acrescenta que o Governo ainda pode fazer mais do que aquilo que estava previsto porque “o Ministro das Finanças já falou em calibrar a proposta”.
Paulo Baldaia diz que é o motivo pelo qual o Governo não foi claro quando falou desta descida dos imposto no IRS é um mistério, este não é capaz de assumir o que fez porque diz que “o problema é que toda a gente se enganou”.
“Vamos todos no sentido correto na autoestrada, o Governo vem em sentido contrário, mas acha que somos todos nós que estamos errados. E quando digo todos nós, digo políticos que perguntaram durante o debate e jornalistas que despejaram perguntas junto do Governo a querer saber se esta proposta acumulava com o que já estava em vigor, se isto esgotava ou não esgotava o plafond ou almofada financeira que existe.”, refere.
Acrescentou ainda que havia uma intenção de deixar esta ambiguidade que vai acabar mais tarde ou mais cedo.
O comentador explica que o problema do Governo “é com os contribuintes que com certeza estarão profundamente desiludidos porque lhes foi vendido que iria acontecer uma coisa que não acontece”.
Paulo Baldaia diz que o que vai mudar, em relação ao que está em vigor, é “rever as tabelas de IRS e juntar-lhe mais ou a partir de 170 milhões porque já percebemos que o Governo" vai acabar por ir mais longe para "de alguma forma, recuperar algum terreno político perdido”.
Afirma também que a tabela aprovada pelo antigo Governo não pode ser recuperada e implementada.
“Se a tabela do PSD fosse recuperada e fosse agora implementada, isto significaria que os contribuintes do segundo e do terceiro escalão acabariam a pagar mais do que estão a pagar hoje”
O comentador termina a dizer que ainda não se sabe se a imagem do Governo ficou irremediavelmente comprometida e afirma que a ida do ministro e eventualmente do primeiro-ministro à Assembleia da República, prestarem esclarecimentos sobre o equívoco, pode ajudar mas não é solução.
"Eu acho que a solução pode passar por dois caminhos" um é “aumentar o que vai acrescentar neste desconto de IRS, no que nós vamos pagar a menos, em vez de serem 170 milhões ou 200, acabarem por ser 300 ou 400 e sobretudo ter a humildade de ir falar com a oposição para aprovar esta alteração fiscal, porque ela precisa de passar pelo Parlamento”, finaliza.