Saúde e Bem-estar

Diagnosticar Parkinson anos antes de se tornar intratável? Investigadores dão passo essencial

Quando os primeiros sinais motores da Doença de Parkinson se tornam visíveis, o cérebro já sofreu danos significativos. Mas e se fosse possível inferir, com antecedência suficiente, as deficiências sensoriais que surgem anos antes em muitos doentes?

SIC Notícias

Um novo estudo liderado por investigadores da Fundação Champalimaud mostra, pela primeira vez de forma realista, que pode ser possível diagnosticar a Doença de Parkinson através de exames de imagiologia cerebral, anos antes de se tornar intratável. As conclusões foram publicadas, esta quinta-feira, na revista Journal of Cerebral Blood Flow and Metabolism.

Diagnóstico antes dos sintomas da doença

Já se sabia que algumas pessoas que estão a desenvolver lentamente a Doença de Parkinson, mas que ainda são assintomáticas, se queixam da perda do olfato - algo que pode acontecer cinco a dez anos antes de ficarem realmente doentes e apresentarem todos os sintomas da doença, como lentidão nos movimentos, tremores em repouso, rigidez e instabilidade postural.

No entanto, essa perda de olfato, por si só, "não é um biomarcador específico da doença", uma vez que nem todas as pessoas desenvolvem esse sintoma.

"No entanto, as pessoas que desenvolvem Doença de Parkinson, e doenças relacionadas, podem ainda ter défices visuais e até alucinações – e é aqui que poderá haver espaço para biomarcadores mais fiáveis", refere o estudo, salientado que "quanto mais precoce for o diagnóstico, maiores serão as hipóteses de desenvolver tratamentos eficazes para os doentes".
"Utilizando um scanner de ressonância magnética experimental de campo ultra-alto instalado no laboratório de Shemesh, os investigadores submeteram um modelo animal de ratinhos com Doença de Parkinson a uma técnica chamada ressonância magnética funcional (IRMf)", indica o comunicado.

Uma das partes do estudo passou pela análise da proteína C-FOS, que é libertada quando um neurónio é ativado.

"E ao analisar a quantidade dessa proteína presente no cérebro dos ratinhos com Doença de Parkinson, descobriu-se que a redução da atividade neuronal era ainda mais pronunciada do que a do fluxo vascular" e que "os neurónios dos ratinhos estavam simplesmente a disparar menos", explica Noam Shemesh, líder do laboratório de Ressonância Magnética Préclínica da CF.

Diagnóstico mais cedo, tratamento mais eficaz

"Esta é a primeira observação de uma aberração sensorial visual e olfativa conjunta na atividade cerebral de modelos de roedores com Doença de Parkinson em geral e no modelo da alfa-sinucleína em particular", sublinham os autores do estudo.

Esta investigação abre uma oportunidade para estudos futuros explorarem como os défices sensoriais evoluem ao longo da doença, o que pode levar à descoberta de biomarcadores de imagem precoces.

“Partindo do princípio de que os efeitos da alfa-sinucleína no cérebro dos ratinhos e no cérebro humano são semelhantes, o que é uma suposição razoável, uma das coisas que poderíamos fazer agora seria analisar os sinais de ressonância magnética funcional no cérebro de pessoas que relatam algum tipo de anosmia [perda do olfato], bem como as suas respostas visuais”, adianta Noam Shemesh.

Tal como explica Tiago Outeiro, neurocientista e especialista em Parkinson do Centro Médico Universitário de Göttingen, "a grande vantagem deste método é ser verdadeiramente não invasivo e fácil de realizar".

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