Saúde e Bem-estar

Vítima: o fígado. Culpado: o álcool. Se deixar o álcool, o fígado recupera?

Os dados preocupam: a dependência de álcool em Portugal aumentou quase 50% na última década. O órgão que mais sofre com o consumo desmedido de bebidas alcoólicas é o fígado. Será que o pode tratar melhor? As evidências mostram que este órgão, em alguns casos, retribui o cuidado.

Karen Moskowitz

Ana Luísa Monteiro

O fígado é o maior órgão interno do corpo humano e é necessário para centenas de processos corporais, incluindo a decomposição de toxinas como o álcool. Apesar de não ser o único órgão afetado pela ingestão de álcool, o fígado é o mais suscetível aos seus efeitos.

Mas, o que pode afinal o álcool fazer ao fígado? “Como especialista, encontro pessoas com doença hepática relacionada com o álcool todos os dias. É um espetro de doença que varia desde a acumulação de gordura (fígado gordo) até à formação de cicatrizes (cirrose) e, geralmente, não causa quaisquer sintomas até fases mais avançadas da lesão”, explica Ashwin Dhanda, professor de hepatologia da Universidade de Plymouth, num artigo noThe Conversation.

Olhar para o cenário português pode fazer soar alguns alarmes. A prevalência do consumo de álcool em Portugal aumentou de 49,1% para 56,4% entre 2017 e 2022, revela o estudo do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD). Já a prevalência do chamado ’binge’ (consumado rápido e excessivo de bebidas alcoólicas), pelo menos uma vez ao ano, é de 10,3%, enquanto o ‘binge’ mais severo (uma vez ou mais nos últimos 12 meses) é de 6,1% (subiu relativamente aos anos de 2012 (3,4%) e 2017 (5,1%)).

No início, o álcool torna o fígado gordo. Essa gordura faz com que o fígado inflame e, em resposta, tenta curar-se, produzindo cicatrizes. Se isto continuar sem controlo, o fígado pode tornar-se uma rede de cicatrizes com pequenas ilhas de fígado ‘bom’ (a chamada cirrose), aponta o professor.

“No estado mais avançado da cirrose, quando o fígado falha, as pessoas podem ficar amareladas (icterícia), inchar com líquidos e ficar sonolentas e confusas. Isto é sério e pode ser falar”, acrescenta.

…E as boas notícias? O fígado recupera?

“Felizmente, há boas notícias”, anuncia o professor Ashwin Dhanda no seu artigo. Em pessoas com o fígado gordo, o fígado por funcionar como novo depois de apenas duas ou três semanas sem ingestão de álcool. Já em pessoas com o fígado inflamado ou cicatrizes leves, há reduções perceptíveis na gordura, inflamação e cicatrizes logo após sete dias sem álcool.

Em casos mais graves, como é o daqueles que apresentam quadros de cirrose e insuficiência hepática, abandonar o álcool reduz a probabilidade de agravamento da doença, que pode causar a morte. Mas atenção, aponta o investigador, as pessoas que bebem muito podem ser fisicamente dependentes do álcool e parar repentinamente pode causar abstinência alcoólica. Na sua forma leve, causa tremores e suor, mas se for grave pode provocar alucinações e convulsões. Nestes casos, é necessário acompanhamento médico.

Se precisa de um incentivo extra aqui vai: deixar as bebidas alcoólicas tem efeitos positivos no sono, na função cerebral e na pressão arterial. Evitar o álcool por longos períodos também reduzir o risco de vários tipos de cancro (incluindo fígado, pâncreas e cólon) e o risco de doenças cardíacas.

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