Grande Reportagem SIC

"O colo que me agarrou"

Portugal é o país europeu com a maior taxa de crianças em perigo institucionalizadas. A lei é clara: diz que até aos 6 anos, deve ser dada sempre prioridade ao acolhimento familiar. No entanto, a lei não podia estar mais longe da realidade. Ao arrepio de todas as recomendações internacionais, apenas 5% destas crianças estão numa família de acolhimento.

Sara Tainha

Sofia Ribeiro decidiu ser família de acolhimento depois de ter visto um anúncio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Mãe solteira, falou com a filha, na altura com 7 anos, que não podia ter ficado mais feliz com a ideia de ter uma criança em casa.

"A minha filha começou a chorar muito"

Candidatou-se, fez a formação e passado duas semanas já estava a receber um bebé.

“Foi uma emoção muito forte. Lembro-me que a minha filha começou a chorar muito porque o bebé não estava com a mãe. É uma coisa muito intensa”, descreve Sofia Ribeiro.

Receberam o primeiro bebé, com quase 6 meses, a 25 de fevereiro de 2021. Acolheram-no durante um ano e meio, depois voltou para os pais biológicos.

Agora, o caso é diferente. A bebé que está a acolher foi abandonada à nascença.

Foi buscá-la ao hospital ainda nem tinha dois meses.

“Ela é muito engraçada. É uma bebé muito simpática, está sempre a rir e é muito bem disposta! Adora brincar, mexe em tudo, está sempre alerta e traz uma grande alegria à nossa vida”

“Perguntam-me se não me vou afeiçoar ao bebé"

Tal como Sofia Ribeiro, a família de Rosa e João Amado também está a acolher uma bebé, pela segunda vez.

Rosa Amado tem sido uma embaixadora informal do acolhimento familiar nas redes sociais, onde partilha o processo e responde a dúvidas.

“Perguntam-me se não me vou afeiçoar ao bebé. E eu respondo: É suposto! Se não nos afeiçoamos é porque está a correr mal. Há sempre dúvidas sobre o momento da separação: perguntam-me como é que conseguimos gerir. Quando o bebé vem, nós sabemos que vem para uma fase transitória, tanto nós como os nossos filhos. Portanto, nós damos-lhe tudo, sabendo que não é nosso e que está aqui a preparar-se para a próxima fase da vida dele”, explica Rosa Amado.

"Se querem um abraço, eu estou cá"

Ana Macedo e Rui Costa estão a acolher duas irmãs de 4 e 7 anos há quase um ano.

Vivem na casa desta família até que o tribunal decida que podem voltar para a família biológica.

“No início, a mais nova estava mais à vontade e a mais velha estava receosa e reservada. Dei-lhes sempre o espaço necessário, nunca forcei a nada. Se querem um abraço, eu estou cá. Para a brincadeira, já sabem que podem vir ter comigo”, conta Rui Costa.

Em Portugal, a lei diz que deve ser dada prioridade ao acolhimento familiar.

Lei n.º 142/2015, 8 de setembro

“Privilegia-se a aplicação da medida de acolhimento familiar sobre a de acolhimento residencial, em especial relativamente a crianças até aos seis anos de idade”.

No entanto, a lei não podia estar mais longe da realidade. Portugal é o país europeu com a maior taxa de crianças em perigo institucionalizadas.

Ao arrepio de todas as recomendações internacionais, há apenas cerca de 5 % de crianças em famílias de acolhimento.

Qualquer pessoa com mais de 25 anos pode candidatar-se a família de acolhimento.


FICHA TÉCNICA

Jornalista: Sara Tainha

Repórter de Imagem: João Lúcio

Edição de Imagem: Marisabel Neto

Grafismo: Carla Gonçalves

Produção: Diana Matias

Colorista: Gonçalo Carvoeiras

Pós-produção áudio: Octaviano Rodrigues

Coordenação: Miriam Alves

Direção: Marta Brito dos Reis; Ricardo Costa

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