Nasceu em Lisboa, em 1979. Cresceu rodeado de vizinhos, amigos e de mais de 30 primos. A família vivia “sem grandes dificuldades”, em Carcavelos. Com 10 anos, agarrava na bicicleta e ia para a praia. Os pais casaram um ano depois de nascer e por isso diz ser um “produto do 25 de Abril”.
O pai gostava muito de fotografia e andava sempre de máquina fotográfica na mão a tirar fotos aos quatro filhos - foi uma dessas fotos, a mais “clássica”, que trouxe para o Geração 70.
“Fui muito feliz. Guardo esses momentos com grande saudade, não no sentido nostálgico, mas porque foi um período bonito”.
Sempre foi uma criança dona do seu nariz e sem “medo” de assumir as suas posições. “Nunca fui de grandes fretes, nunca fui de estar por estar ou porque ficava bem”, afirma. Cresceu numa família católica e, com 8 anos, depois de completar a primeira comunhão, disse ao país que estava fora. “Para mim acabou”, recorda.
O pai e o lado paterno da família eram politicamente mais conservadores. O avô tinha, aliás, ligações ao antigo regime.
“Nunca o vi como um alto quadro do Ministério do Interior. Via-o como o meu avô, de quem gostava muito”.
Nunca teve uma “vocação precoce”. Fez desporto até muito tarde, jogou ténis a nível profissional, e os testes psicotécnicos do secundário escolheram a Faculdade de Motricidade Humana. Acabou por ir para Economia, mas era um adolescente que gostava muito de sair - “de quinta a domingo”. A Matemática tornou-se um pesadelo. Ainda tentou Direito, mas “detestou”. A escolha final foi Ciência Política e um mestrado em Relações Internacionais.
“Não sou analista de sofá"
Encontrada a vocação fez vida e carreira nos Assuntos Internacionais. “Não sou analista de sofá. Gosto de ir aos locais, gosto de ver e ouvir as pessoas. Um analista não é um futurologista”, explica.
Bernardo Pires Lima é conselheiro político do Presidente da República, analista de Assuntos Internacionais, investigador na Universidade Nova de Lisboa e fundou o grupo de Reflexão sobre o Futuro de Portugal, composto por 45 quadros portugueses nascidos depois de 74.
Pai de três filhos, não esconde que já teve muitos dissabores ao longo da vida, mas escolheu sempre ficar ao lado dos moderados - precisamente, em nome do futuro dos filhos.
“Desilude-me o comportamento das pessoas que enveredaram pelo radicalismo e as pessoas que por um prato de lentilhas, por oportunismo, foram por esse caminho. Algumas que eu considerava sensatas e até amigas. Nem hesitei um segundo em fazer as ruturas necessárias quando o lado escolhido quer anular o meu ou o futuro dos meus filhos”.
“Geração 70“ é uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam.
Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão.