O primeiro-ministro português afirmou esta terça-feira, em Pequim, que o Governo está a recolher informações sobre o que se passou com a flotilha humanitária que transporta a delegação portuguesa.
O barco com bandeira portuguesa da flotilha de ajuda humanitária a Gaza, onde seguem Mariana Mortágua, Sofia Aparício e Miguel Duarte, foi atacado esta madrugada por um drone na Tunísia. Os portugueses encontram-se bem.
Questionado pelos jornalistas, à margem da visita que está a realizar à China, sobre que informações dispõe o Governo sobre este caso, o primeiro-ministro disse ainda não poder "emitir alguma opinião" tendo em conta a informação limitada de que dispõe.
"As informações são muito limitadas e, portanto, eu não poderei acrescentar nada mais que não o facto de ir recolher, precisamente, mais conteúdo informativo para poder depois emitir alguma opinião", afirmou junto do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel.
O ataque ao navio com bandeira portuguesa causou um pequeno incêndio a bordo, mas foi rapidamente extinto. Registaram-se apenas danos superficiais na embarcação que "pode viajar" a partir de quarta-feira.
O ativista português Miguel Duarte estava no barco no momento do ataque.
Mortágua diz que Estado português (mas não só) tem responsabilidades nesta missão
A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, pediu esta terça-feira que o Estado português e a comunidade internacional tenha responsabilidade no que diz respeito à missão humanitária.
O barco atingido foi o 'Family Boat' (Barco da Família), com bandeira portuguesa e que transporta elementos portugueses participantes na ação humanitária de apoio aos palestinianos na Faixa de Gaza, assim como membros do Comité Diretivo da organização. A Guarda Costeira tunisina garantiu esta madrugada através de um comunicado que "não existe qualquer ato hostil nem ataque externo".
Sobre estes esclarecimentos, Mortágua acrescenta que "o que aconteceu é uma tentativa para descredibilizar mais uma vez este ataque" para "dizer que as origens do incêndio são internas ao navio, quando há imagens que mostram claramente o dispositivo a ser lançado sobre o navio".
E lembra: "O navio tem bandeira portuguesa. O principal navio desta missão, onde segue a delegação portuguesa e também os organizadores da missão, tem bandeira portuguesa." Nesse sentido, considera "que isso dá responsabilidades adicionais ao Estado português, mas não apenas ao Estado português".
"Independentemente da verificação das origens que deve esclarecer todas as questões deste ataque, esta é uma missão humanitária que deve ser respeitada e protegida pelos governos e pelas instituições europeias", sublinha a bloquista.
A Flotilha Global Sumud - que significa resiliência, em árabe -, que pretende ser "a maior missão humanitária da história" com o território palestiniano de Gaza, zarpou no domingo de Barcelona.
Missão "não pode nem vai ser travada"
Em declarações em exclusivo à SIC Notícias, Mariana Mortágua, que estava a bordo de outro barco no momento do ataque, explica que o drone lançou um dispositivo de fogo para o barco onde segue a delegação portuguesa.
"Eu não estava no navio nesse momento, eu e a Sofia tínhamos feito um turno de vigilância na noite anterior e tínhamos sido substituídas por outras pessoas, entre elas o Miguel Duarte e a Ada Colau, que também esteve presente e que foi Presidente de Câmara de Barcelona", esclarece.
Segundo a bloquista, o drone "trouxe um dispositivo incendiário" causando o referido incêndio numa parte do barco. Este terá sido lançado "para um sítio específico do barco".
"Este drone foi lançado precisamente no momento em que se sabia que não estavam algumas figuras dentro do barco, mas como estratégia de intimidação, embora não tenhamos nenhuma confirmação das suas origens", relatou Mariana Mortágua.
A coordenadora do Bloco de Esquerda garantiu à SIC que "esta missão não pode nem vai ser travada e vai continuar", destacando que se trata de uma missão com "dezenas de barcos, dezenas de países, tem dezenas de personalidades e, portanto, não há nenhuma estratégia de intimidação que impeça esta missão humanitária de continuar".
Mariana Mortágua lembra que este ataque "poderia ter tido outras consequências", e recorda que "a bordo deste navio estavam civis e participantes", além de existir apenas "ajuda humanitária e alguns enlatados que serviam para a alimentação da tripulação e dos participantes".
"Uma das razões pelas quais esta missão tem esta dimensão de dezenas de barcos com muitas nacionalidades e que dá todo este trabalho e tem esta complexidade organizativa é precisamente para superar todas as dificuldades que anteriores missões foram encontrando, sejam elas sabotagem de ataque direto ou indireto", explica ainda a bloquista.