Não é preciso procurar muito para encontrar a ideologia do agente da PSP. Vários milhares entraram sem sabermos quem são e de onde vieram, sem saber se têm registo criminal limpo ou não têm. Usa o Facebook para difundir intervenções do presidente do Chega.
Partilha vídeos que contestam a presença de imigrantes em Portugal. Divulga informações falsas, como a de que o Estado lhes oferece casas, telemóvel e dinheiro. Difunde ideias xenófobas. Não seria notícia se o polícia não estivesse agora acusado do homicídio de um imigrante marroquino.
Dois agentes da PSP acusados de homicídio
O agente é um colega da esquadra de Olhão. Faziam uma patrulha em março do ano passado quando foram chamados a um supermercado para travar desacatos. Os dois alegados responsáveis, imigrantes marroquinos, estariam sob efeito de drogas e a abrir embalagens e consumir produtos.
A dona do supermercado não quis apresentar queixa, mas na acusação a que a SIC teve acesso, o Ministério Público escreve que os dois polícias agarraram os dois marroquinos, encostaram-nos ao carro patrulha e algemaram-nos com as mãos atrás das costas.
A detenção obrigaria a um relatório escrito na esquadra, mas em vez disso terão feito um desvio e levado os dois imigrantes para uma estrada isolada a cinco quilómetros. O Ministério Público diz que os agentes desferiram pancadas na cabeça e na face de uma das vítimas, Aissa, pelo menos uma das vezes com um objeto.
O homem de 26 anos não terá conseguido defender-se, estava algemado com as mãos atrás das costas. A gravidade das lesões deixou-o nos cuidados intensivos. Ao fim de 19 dias morreu no hospital de Faro. Tinha fraturas no crânio, nariz, maxilares e coluna.
Agentes da PSP estão suspensos de funções
Os dois polícias estão em liberdade à espera de julgamento por homicídio e sequestro. Podem também vir a pagar uma indemnização. A eles e ao Estado, a família da vítima exige um milhão e 600 mil euros.
Num requerimento citado pelo Expresso, a defesa diz que o crime foi motivado por ódio a imigrantes e vai buscar as dezenas de publicações que deixou nas redes sociais.
Tanto o Estatuto profissional da PSP como a lei da segurança interna obrigam os polícias à neutralidade política e partidária e à imparcialidade, mesmo fora do serviço. A PSP admite que são graves os factos descritos na acusação, lembra que os agentes estão suspensos de funções e alvo de processos disciplinares.