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"Alguém acha que um primeiro-ministro em férias está verdadeiramente em férias?"

Numa altura em que o país enfrenta graves incêndios florestais, Paulo Rangel, ministro dos Negócios Estrangeiros, esteve na SIC Notícias, onde abordou as polémicas em torno da Festa do Pontal e da postura do primeiro-ministro ao longo última semana. A guerra na Ucrânia e o genocídio em Gaza foram outros dos temas que mereceram a atenção do antigo eurodeputado. 

Gabriel Mota Figueiredo

Em entrevista à SIC Notícias, esta segunda-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, reconhece que as negociações tendo em vista a resolução do conflito na Ucrânia estão a entrar "numa fase complexa", mas assume que “há condições para haver paz”. O ministro português menciona também que Luís Montenegro, que tem sido alvo de muitas críticas devido aos incêndios, esteve "sempre ao comando das operações a partir das férias", que, frisa, interrompeu ao quarto dia.

O ministro social-democrata começa por abordar o "histórico" encontro desta segunda-feira, na Casa Branca, entre Trump e Zelensky:

“Aquilo que se passou hoje na Casa Branca não tem paralelo no passado e revela que estamos, portanto, num momento de viragem também, de definição.”

Rangel considera que, “se for possível haver garantias de segurança” e se “houver razoabilidade”, considera, “há condições para haver paz”.

Para o ministro dos Negócios Estrangeiros, Donald Trump, parte fundamental numa eventual solução, “está extremamente empenhado” em colocar fim ao conflito que se desenrola em solo europeu.

“Isso para ele é fundamental para mostrar a sua influência, o facto de agora ter tido todos estes líderes, empenhados em trabalharem ao lado da Ucrânia, é muito importante”, defende.

Para Paulo Rangel, as cedências territoriais exigidas por Moscovo “são inaceitáveis” para a Ucrânia e para os aliados europeus, sendo essencial, segundo o ministro, que a Rússia aceite as garantias de segurança paralelas às da NATO.

“Tudo isto está a evoluir com grande rapidez, mas eu acho que vamos entrar numa fase de negociação muito mais complexa e que é capaz de tomar mais tempo”, antevê.

Reconhecimento do Estado da Palestina

Sobre o conflito no Médio Oriente, Rangel defende que Portugal tem tido uma “conduta exemplar” e dá como exemplo o facto de o país ter sido “talvez o primeiro a interditar a venda de armas para Israel”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros esclarece que a nação só avançará para o reconhecimento do Estado da Palestina “se isso tiver um efeito útil”, garantindo que os governos que “mais fizeram pela causa da afirmação da Palestina” foram o de Passos Coelho e o atual, liderado por Montenegro.

Mas, afinal, o que é necessário para que a comunidade internacional reconheça o Estado palestiniano?

“Portugal, França, Reino Unido, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e o Japão, agora, dizem, como contrapartida, que estarão disponíveis para fazer o reconhecimento do Estado palestiniano sob uma condição que todos puseram e que foi aceita pela autoridade palestiniana. A autoridade palestiniana tem de reconhecer Israel, a autoridade palestiniana tem de dizer que o Hamas não participará em eleições, a autoridade palestiniana tem de dizer que vai organizar eleições em 2026 para a presidência e para o parlamento, a autoridade palestiniana tem de renunciar”, recorda.

Primeiro-ministro "está sempre a trabalhar”

Na última semana, Luís Montenegro foi bastante criticado por ter continuado a gozar as suas férias no Algarve numa altura em que o Norte e Centro do país lidavam com os incêndios florestais.

Em defesa do chefe de Estado, Rangel lembra que “os portugueses têm direito a um mês de férias” e que Montenegro “interrompeu as suas férias no quarto dia”. “Teve quatro dias de férias”, acrescenta.

“Alguém acha que um primeiro-ministro ou um ministro, eu falo por mim, em férias está verdadeiramente em férias? As pessoas estão constantemente a trabalhar”, aponta.

O ministro frisa que o chefe do Executivo cessou de imediato as suas férias assim que percebeu a situação dos incêndios não iria melhorar.

“Esteve sempre ao comando das operações a partir de férias, como toda a gente sabe”, frisa.

O número dois do Governo entende que as pessoas que estiveram presentes na Festa do Pontal, na passada quinta-feira, estavam “sensibilizadas” pelo que a população afetada pelos fogos estava a atravessar.

“O estar em férias não significa que as pessoas não estejam com grande solidariedade. E no caso do primeiro-ministro está sempre a trabalhar”, completa.

Para Paulo Rangel, a discussão destas “pequenas questões que estão sempre a levantar” não passam de “pequena política” e insiste que Luís Montenegro e os ministros portugueses estão “chocados” com o cenário que se verifica nas zonas afetadas pelas chamas.

Acerca da polémica em torno do acionamento do Mecanismo Europeu de Proteção Civil, o ministro dos Negócios Estrangeiros entende que “nada correria de forma diferente” se tivesse sido feito mais cedo.

“Os meios aéreos, como nós vemos, em muitas circunstâncias não podem atuar. Por causa do fumo, por causa da noite. E, portanto, nós temos de facto aqui circunstâncias em que, pese embora fosse mais confortável para todos termos muito mais meios aéreos, não quer dizer que eles pudessem ser usados. E também isso foi ponderado em todas essas decisões técnicas. Nós deixamos aos técnicos, e não ao critério político, a definição daquilo que são os meios estritamente necessários”, remata.

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