Amílcar está há três noites a dormir em casa de um amigo porque a Câmara de Loures demoliu esta quarta-feira a casa ilegal onde morava há um ano no Talude.
“Eu tive uma consulta no hospital Beatriz Ângelo e o pessoal da câmara veio aqui com as máquinas. Solicitou alguém. Não sei se lhes disseram que moravam aqui pessoas, mas até chegar aqui eles meteram a casa abaixo”, explica Amílcar.
Voltou a pô-la de pé por não ter forma de ir para uma casa melhor aos preços atuais. Marlene assistiu. Diz que os elementos da câmara chegaram a meio da manhã.
“Eu sou uma das primeiras pessoas a chegar cá e a dizer "meus senhores ninguém está. Todos foram trabalhar. Temos de trabalhar, se não não temos como sobreviver", relata Marlene
Esta semana foram sete as barracas demolidas A autarquia está a numerar as casas ilegais para controlar o crescimento do bairro e dissuadir quem se quiser instalar.
"Entre os afetados está também a família que morava aqui desde setembro. “Ele tem duas crianças menores e estão sem-abrigo. Está mesmo sem-abrigo. Todos estão, mas ele está mais porque ele tem dois menores e é muita tristeza ver um casal com dois menores na rua” explica Marlene.
Marlene está a falar de Engels, um são-tomense, professor de matemática. À hora a que fizemos a reportagem estava a trabalhar, tal como no dia em que a câmara veio deitar abaixo a construção, pela segunda vez, por alegadamente estar desabitada.
A autarquia não realojou os moradores com as casas destruídas, convidou-os a visitar os serviços sociais que não conseguem dar resposta a todos os pedidos.
Neste bairro do Talude, em Loures, a maioria dos moradores são imigrantes de São Tomé e de Cabo Verde com autorização de residência em Portugal através do visto da CPLP.
São trabalhadores que ganham o salário mínimo e que vivem com poucas condições, sem água e sem luz, por não conseguirem pagar uma renda.