O Ministério Público (MP) vai investigar "incongruências e inexatidões" no auto da PSP sobre a morte de Odair Moniz. Jorge Bastos Leitão, superintendente-chefe da PSP, diz que "era possível" o auto ser enviado para PJ enquanto o agente estava a ser interrogado por esta última polícia. Já Luís Garriapa, editor de Justiça e Investigação da SIC, diz que o mais difícil para a defesa será provar a legítima defesa.
A acusação do MP a que a SIC teve acesso refere que "surgiu a suspeita de que o auto de notícia elaborado pela PSP padece de incongruências e de inexatidões".
Na SIC Notícias, Jorge Bastos Leitão descreve que quando um agente mata alguém - um acontecimento "traumático" - "o que lhe vai na cabeça é um desconcerto total", ou seja, fica "incapaz de raciocinar", explica. Por isso, é isolado num "sítio onde possa estar relaxado" e sabe que vai ter de relatar o que se passou.
De seguida, esclarece o mesmo responsável, o auto "entra imediatamente no sistema estratégico de informação (SEI) da PSP", que vai ser revisto e assinado pelo agente em causa para ser enviado para o Ministério Público. Já o documento que vai ser enviado para a Polícia Judiciária (PJ) "não vai assinado" e é "suscetível a alterações".
"Era perfeitamente possível que tenham enviado o auto do SEI para a Polícia Judiciária enquanto ele lá estava. Qual é a falsificação aqui? Nenhuma. O que a PSP estava a fazer nesse momento era apenas a colaborar com a celeridade da justiça", refere o superintendente-chefe da PSP.
No caso da morte de Odair Moniz, de acordo com o superintendente-chefe, a PJ "fez pressão imediatamente para o polícia ser ouvido". Apesar de ser uma prática "comum", considera-a "errada".
Jorge Bastos Leitão afasta que a experiência dos agentes tenha o resultado do caso no bairro da Cova da Moura, na Amadora, e refere que os polícias foram "submetidos a um nível de violência elevado".
Já Luís Garriapa, editor de Justiça e Investigação da SIC, acrescenta que o despacho diz que "uma das suspeitas" tem a ver com a autoria do auto, contudo, poderá haver outras "incongruências".
O jornalista considera que o "mais difícil para a defesa" vai ser provar a legítima defesa.
Na acusação do MP, a que a SIC teve acesso, é referido que o primeiro tiro atingiu a vítima no tórax e o segundo tiro na zona genital e perna direita. Mas há mais dados sobre aquela madrugada e até, "incongruências e inexatidões", que têm de ser investigadas.
A morte de Odair
Odair Moniz, cidadão cabo-verdiano de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de 21 de outubro, no bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho, distrito de Lisboa, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.
De acordo com a versão oficial da PSP, o homem pôs-se "em fuga" de carro depois de ver uma viatura policial e despistou-se na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, "terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca".