A polícia está a tentar apurar os motivos que levaram aos desacatos deste domingo, no Martim Moniz, em Lisboa. Sete pessoas ficaram feridas, três delas foram hospitalizadas. A PSP confirma que a rixa envolveu estrangeiros de grupos rivais. Duas da vítimas terão sido agredidas com uma faca e as restantes com paus e barras de ferro. Até agora, não há detidos nem suspeitos identificados. A segurança foi reforçada no local. A PSP garante que este não é um caso isolado.
Nuno Ramos de Almeida, comentador da SIC, considera que é preciso relativizar, e dá o exemplo da violência doméstica.
“Na quinta-feira tivemos a 26.ª mulher morta no Barreiro à frente de duas crianças. O crime de violência doméstica e de assassinato de mulheres está a aumentar. A nossa perceção disso e o nosso trabalho, do ponto de vista de comunicação, é o que é e este assunto, no fundo, tem este realce porque vem na sequência de um conjunto de acontecimentos e é preciso sublinhar que esses acontecimentos, nomeadamente a rusga da polícia em que tiveram centenas de pessoas encostadas à parede, não alterou a existência de problemas, não resolveu a existência de problemas”, explica o comentador da SIC.
Na opinião de Nuno Ramos de Almeida, é necessário outro tipo de policiamento e “é preciso considerar que aquelas perceções que nos querem vender, nomeadamente a ligação da criminalidade à imigração, são falsas”.
O jornalista destaca também a relevância do esclarecimento das autoridades: "É importante que a polícia que diz que este não é um caso isolado, explique de facto bem o que é que aconteceu nesta e noutras situações, sob pena de alimentar precisamente essa perceção de insegurança ligada à imigração".
Dados sobre criminalidade em Portugal
Na análise desta manhã na SIC Notícias, Nuno Ramos de Almeida apresenta dados concretos sobre a criminalidade em Portugal e como os números mostram que não há uma relação entre imigração e aumento da criminalidade.
"Temos menos de 21 % de crimes violentos na última década, temos desde 2010 até agora, vai descendo sempre a criminalidade, obviamente que há alterações, quando acabou a pandemia subiu, há anos que é mais alta e mais baixa, mas num ciclo longo há essa descida. E aquilo que também verificamos é que os conselhos que têm mais imigração não têm mais criminalidade, ou mais imigração não significa isso.
Um estudo recente da socióloga Catarina Reis mostrava, por exemplo, que no Porto em 2009 tínhamos 17.383 crimes reportados e tínhamos 8.809 estrangeiros.
Em 2023 temos 35.653 estrangeiros, portanto mais que quadriplicou o número de estrangeiros e a criminalidade diminuiu para 14.552.
Portanto, quer dizer que por muito que andem a construir esta questão, a questão do aumento da criminalidade e a questão da sua relação suposta com a existência de imigrantes, isso é falso, é completamente falso", sublinha o comentador da SIC.
Sondagem sobre as principais preocupações dos portugueses
Uma outra sondagem, do Instituto de Sondagens da Universidade Católica, realizada em julho, depois das europeias, que hierarquizava quais são as principais preocupações dos portugueses, é também apresentada pelo jornalista.
Nuno Ramos de Almeida explica que nessa sondagem surgia em primeiro lugar o Serviço Nacional de Saúde, a seguir os salários e a imigração só aparecia em sexto lugar, mas já era construída uma ideia de termos uma imigração grande e a criminalidade nem sequer aparecia.