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Violência na Grande Lisboa: "Vemos um movimento social em que há um aproveitamento por parte de grupos"

Mauro Paulino analisa o fenómeno de violência que tem afetado alguns bairros da Grande Lisboa nas últimas três noites. O psicólogo sublinha que "não podemos nem devemos confundir o todo com a parte".

Mauro Paulino

SIC Notícias

O psicólogo Mauro Paulino diz ser necessária uma maior prevenção nos vários bairros onde tem havido mais desacatos na Grande Lisboa. O comentador da SIC destaca o policiamento de proximidade como umas das formas para diminuir a violência.

Esta foi a terceira noite de desacatos nos bairros da Grande Lisboa. Na Cova da Moura, uma pessoa foi detida por posse de materiais pirotécnicos. Os desacatos de Lisboa estenderam-se a outros concelhos, dois autocarro foram incendiados, um no Seixal e outro na zona de Santo António dos Cavaleiros, em Loures. Neste último, um grupo de 20 encapuzadas obrigou todas as pessoas a saírem antes de atear fogo à viatura. O motorista ficou ferido e está internado em estado grave.

“Aquilo que nós vemos agora é um movimento social em que há um aproveitamento por parte de grupos que estão habituados a fazer do seu estilo de vida crime ou associado ao crime, que acaba por estar em algumas circunstâncias a levar com que as pessoas erradamente confundam o todo com a parte, porque as pessoas que moram em zonas urbanas sensíveis, na sua maioria não têm esta atuação, estão integradas, contudo, isso não anula também as problemáticas que aí podemos encontrar”, destaca Mauro Paulino.

Perante a complexidade a situação a que temos assistido nos últimos dias, o psicólogo realça que esta é uma boa oportunidade para refletir sobre um conjunto de aspetos que são essenciais.

"Primeiro eu diria que tínhamos que refletir sobre o fenómeno das zonas urbanas sensíveis, que inicialmente eram definidas como zonas problemáticas e que estão relacionadas com a forma como foram construídas de desordenadamente nas periferias das grandes cidades há várias décadas, numa ausência de políticas de proximidade (…) isto torna depois, na continuidade e na prevenção, as intervenções policiais muito mais complexas e exigentes nestes contextos.

Mauro Paulino lembra também que “muitas vezes estas zonas urbanas sensíveis também são espaços onde se habita com pouca ou nenhuma dignidade”.

“Aquilo que a ciência psicológica vai demonstrando é que esses espaços, por vezes também associados a contextos de pobreza, prejudicam, condicionam a capacidade das pessoas a tomarem determinadas decisões e isto é o suficiente para que alguns nesta situação estejam associados a realidades criminais e estas realidades criminais exigem novas políticas de segurança e organizacionais e até mesmo práticas policiais”, explica o psicólogo.

Em entrevista na SIC Notícias, Mauro Paulina faz questão de realçar a seguinte mensagem:

“Quem vive em zonas urbanas sensíveis, chamadas zonas urbanas sensíveis, não são necessariamente pessoas que fazem da vida crime, não são pessoas que são delinquentes, ainda que exista uma fatia que merece uma abordagem obviamente cuidada, que existem desafios que estas zonas oferecem (…) não podemos nem devemos confundir o todo com a parte. Isso era estar a contribuir para um estigma, para a marginalização e não é esse a atitude e a abordagem correta”.

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