Os maus tratos a idosos são uma realidade cada vez mais preocupante. Em muitos casos, os agressores são os familiares mais próximos. Em Gaia, o gabinete de apoio a idosos vítimas de violência, maus tratos e negligência já apoia mais de 300 seniores.
Começou a ser vítima de maus tratos três anos após o casamento. Maria, nome fictício, chegou à terceira idade sem esquecer a dor que atravessa toda uma vida.
"Os maus tratos começaram com mais agressões psicológicas. Em termos de me bater muito, foi mais agora, aos 50 e tal, 60 anos. Já me batia de tal maneira que tive de ir ao hospital. Outras vezes, ele não me deixava ir ao hospital", conta.
Depois de 40 anos de maus tratos e lesões para a vida, ganhou coragem e saiu de casa.
"O processo de violência doméstica demorou muito tempo. Ele apanhou três anos de pena suspensa. Continuo a ter medo, muito medo. Tenho medo de andar na rua sozinha, não me sinto bem. Às vezes de noite acordo assustada, parece que ouço-o a chamar-me", relata.
O suporte para começar do zero encontrou no Gabinete de Apoio à Vítima Sénior, em Gaia.
Desde que abriu, a entidade já sinalizou 300 vítimas, homens e mulheres, maiores de 65 anos.
O gabinete criado em 2020 presta apoio personalizado a idosos vitimas de violência doméstica, maus tratos ou negligência.
"Estamos a falar de pessoas muito vulneráveis que vivem com os agressores, que muitas vezes são os filhos. Depois temos os cônjuges, que é o mais usual", refere Susana Cruz, coordenadora do Gabinete de Apoio à Vítima Sénior.
Quando os agressores são os filhos, em muitos casos, trata-se de violência financeira.
"Ficar com a reforma, não dar acesso ao dinheiro, controlar as despesas. Isto é um tipo de violência. Muitas vezes falamos da violência doméstica e pensamos que é o bater, mas não é apenas isso", acrescenta Susana Cruz.
Um dos maiores problemas é conseguir uma nova casa.
O Gabinete de Apoio à Vítima Sénior apoia os idosos com acompanhamento psicológico, social e aconselhamento jurídico de forma confidencial e gratuita.