O sismo de magnitude 5,3 na escala de Richter, registado na madrugada desta segunda-feira, deixou grande parte dos portugueses em sobressalto embora não tenham sido registadas vítimas. Mas estará o Serviço Nacional de Saúde (SNS) preparado para responder perante uma catástrofe de maiores dimensões?
Francisco Goiana da Silva defende que existem duas grandes áreas em que é preciso investir. A primeira a nível de infraestruturas e a segunda a nível de organização das respostas e recursos humanos.
O médico e comentador da SIC relembra que, no passado mês de maio, o Tribunal de Contas deu luz verde ao contrato de gestão do futuro Hospital de Lisboa Oriental (também denominado de Hospital de Todos-os-Santos), mas exigiu uma solução de isolamento contra sismos.
"É importante e não podemos levar mais tempo a fazer esta análise e a reunir um grupo de peritos para estudarmos quais é que são as condições e a fragilidade de cada um dos nossos hospitais a nível nacional. Há cenários em que em Lisboa poderá só resistir, a um sismo de magnitude elevada, o Hospital da Luz porque foi construído com estas bases antissísmicas", refere.
Francisco Goiana da Silva diz que o atual Governo de Luís Montenegro pode fazer um "brilharete junto da população" se investir na prevenção antissísmica dos hospitais portugueses, algo que não foi feito pelo anterior executivo.
"Precisamos de usar esta oportunidade, este "quase acidente" para voltar a revisitar os planos de catástrofe de cada uma das Unidades Locais de Saúde (ULS). Todos os cenários devem estar pensados e preparados e acho que temos um diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que pelo seu 'background' de militar é a pessoa indicada para ver todas estas peças do tabuleiro e criar todos os cenários possíveis", acrescenta.
Governo falha pagamento de horas extra aos médicos
No passado mês de julho, o Conselho de Ministros aprovou um suplemento remuneratório para as horas extraordinárias dos médicos que, um mês depois, ainda não terá sido pago.
"O problema não foi da administração central do Sistema Nacional de Saúde (SNS), o problema foi na incapacidade dos departamentos de recursos humanos das nossas Unidades Locais de Saúde (ULS) operacionalizarem esta politica".
Francisco Goiana da Silva volta a destacar a "complexidade" deste modelo e faz algumas sugestões.
"A minha recomendação seria um modelo mais simples. O modelo que foi usado pelas parcerias público-privadas, o duplo vínculo em que os médicos durante o seu horário de 40 horas recebem de acordo com o seu contrato e depois trabalham enquanto empresas prestadores de serviço com muitas mais valias fiscais. Isso sim é interessante, muito mais simples e sem estas trapalhadas todas que estamos a ver agora."
Demissão do chefe de Ginecologia e Obstetrícia da Maternidade Alfredo da Costa podia ter sido evitada?
O pedido de demissão apresentado por Carlos Marques foi justificado pela "elevada sobrecarga de trabalho, numa altura em que a maternidade bate recordes de partos".
Na mesma semana, a Maternidade Alfredo da Costa (MAC) registou, em apenas um dia, 98 admissões e realizou 25 partos, cinco dos quais cesarianas, o número mais elevado, pelo menos, desde 2013.
Números que não "chocam" Francisco Goiana da Silva que volta a mencionar a necessidade de se apresentar soluções para o encerramento das urgências de Ginecologia e Obstetrícia.
"Concentrar equipas, eventualmente vamos ter de encerrar maternidades em Lisboa. As equipas têm de ser redimensionadas de acordo com as melhores práticas internacionais, equipas mais pequenas para manter as maternidades abertas. E renumerar de forma justa e mais simples o trabalho destes profissionais de saúde".