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Jovens portugueses bebem cada vez mais álcool e ultrapassam consumos seguros

Controlar o consumo jovem exige esforços em todas as frentes. Ao nível familiar, o álcool não deve ser incentivado e numa perspetiva institucional, a opinião dos especialistas é unânime: a publicidade de bebidas alcoólicas deve ser mais legislada e o acesso ao álcool mais controlado.

Marta Tuna

Humberto Candeias

David Alves

Os jovens portugueses começam a beber cada vez mais cedo e em maiores quantidades, segundo o último relatório do Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (SICAD). Os especialistas alertam para as consequências na saúde e na esperança média de vida, que pode diminuir cerca de um ano.

É um dos consumos mais elevados entre os países da OCDE. Os portugueses consomem em média 12 litros de álcool por ano, o equivalente a duas garrafas e meia de vinho ou 4,6 litros de cerveja por semana. São dados de 2019, os mais recentes sobre consumos a nível mundial, mas estima-se que tenham aumentado.

"80 a 85% dos jovens já experimentou uma bebida alcoólica. Praticamente, 50% já teve consumos esporádicos, mas de grandes quantidades num curto espaço de tempo", explicou, à SIC, Manuel Cardoso do SICAD.

"Binge drinking" é comum entre os jovens

O binge drinking, a forma de consumo mais comum entre os jovens, ultrapassa o que se considera de baixo risco, ou seja, uma bebida padrão nas mulheres e duas bebidas padrão nos homens.

"Quando falamos de binge drinking estamos a falar de quatro bebidas para as mulheres em cada ocasião, 40 gramas de álcool puro ou cinco ou seis bebidas para os homens, o que significa 60 gramas de álcool puro numa só ocasião. A embriaguez são já os efeitos do álcool, o que significa que o consumo foi ainda superior àquilo que estou a referir", sublinhou Manuel Cardoso.

Consequências

Entre os 15 e os 19 anos é uma das três fases da vida em que o consumo de álcool tem maior impacto no cérebro. Mas antes das consequências a longo prazo, há efeitos quase imediatos:

"Tem muito a ver com indisposições, perturbações gastrointestinais, há uma perda da perceção da realidade e da maneira como avaliam as situações, portanto, daí a probabilidade de se envolverem em comportamentos de risco aumenta muitíssimo, referiu a psicóloga Gracinda Santos.

Mas não só os efeitos a curto prazo impactam na esperança média de vida. O álcool nos jovens pode prejudicar a saúde ao longo de toda a vida:

Podem ter "problemas no futuro relacionados com as funções cognitivas, uma vez mais com a capacidade de concentração, memória ou raciocínio e pode potenciar o desenvolvimento de perturbações da personalidade em jovens adultos, entre o fim da adolescência e início da idade adulta. Pode [também] levar a problemas nos órgãos internos, no fígado, no coração e noutros órgãos por terem sido expostos a consumos muito elevados de álcool", acrescentou ainda a psicóloga Gracinda Santos.

Começam a beber por pressão social, para integração, sentimento de desinibição ou até mesmo por curiosidade. Reduzir os consumos é uma tarefa difícil.

"Comparativamente com as outras drogas, é socialmente aceite e culturalmente está muito relacionada com as situações de celebração ou de festa e isso, por si só, também se constitui um fator de risco, porque se está associada a coisas boas, não se pressupõe tantos malefícios e, muitas vezes, leva a que os jovens sejam mais destemidos em relação a esses consumos", disse Gracinda Santos.

Controlar o consumo jovem exige esforços em todas as frentes. Ao nível familiar, o álcool não deve ser incentivado. Numa perspetiva institucional, a opinião dos especialistas é unânime: a publicidade de bebidas alcoólicas deve ser mais legislada e o acesso ao álcool mais controlado. Investir na literacia deve ser também uma prioridade.

Os números preocupantes do consumo de álcool

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