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"É um duplo critério": Sócrates critica "silêncio" sobre escutas na Operação Marquês

O antigo primeiro-ministro diz que há 10 anos foi “vítima” de uma “violência ilegítima do Estado”, num método que “deixou de ser exceção e se transformou em regra”. Acrescenta ainda que a publicação de escutas está a ser usada como forma de comprometer a reputação de adversários políticos.

Horacio Villalobos

Carolina Botelho Pinto

José Sócrates lamentou este domingo o “duplo critério moral” sobre o que aconteceu na Operação Marquês, em comparação com a “viva indignação” que as escutas na Operação Influencer provocaram. Numa nota enviada às redações, o antigo primeiro-ministro diz que tal é “absolutamente inaceitável”.

“Portanto, anotemos com consciência: à nojeira de hoje, junta-se a tentativa de esquecimento da nojeira de ontem”, escreve.

O antigo primeiro-ministro diz que há 10 anos foi “vítima” de uma “violência ilegítima do Estado”, num método que “deixou de ser exceção e se transformou em regra”.

“Há dez anos fui vítima do mesmo: as mulheres do Sócrates; os filhos do Sócrates; os amigos do Sócrates.”

Acrescenta que a publicação de escutas é usada como forma de comprometer a reputação de adversários políticos e critica polícias e procuradores que o fazem, lamentando que “rebaixem” o Estado “à condição moral de delinquente”.

“Os criminosos não são os escutados, mas os que divulgam as escutas. O método tem nome e uma longa história nas polícias políticas – Komproma”, acrescenta.

A nota completa de José Sócrates

O duplo critério

A publicação de escutas telefónicas é usada em Portugal como meio que visa comprometer a reputação individual de adversários políticos. Os policias e procuradores que usam estes métodos, rebaixam o Estado à condição moral de delinquente. Os criminosos não são os escutados, mas os que divulgam as escutas. O método tem nome e uma longa história nas policias políticas – Kompromat.

Dito isto, falta dizer que há muito que este método deixou de ser excepção e se transformou em regra. Há dez anos fui vítima do mesmo: as mulheres do Sócrates; os filhos do Sócrates; os amigos do Sócrates. Essa violência ilegítima do Estado Português foi normalizada e tolerada por todos – pela política, pelo jornalismo, pelo poder judiciário. Portanto, anotemos com consciência: à nojeira de hoje, junta-se a tentativa de esquecimento da nojeira de ontem. O silêncio sobre o que aconteceu no processo marquês comparado com a viva indignação que agora é usada no processo Influencer representa um duplo critério moral que considero absolutamente inaceitável.”

Recorde-se que a Procuradoria-Geral da República já abriu uma investigação à divulgação de escutas no processo Influencer, que envolvem o antigo primeiro-ministro António Costa. O caso tem gerado polémica e a própria ministra da Justiça já admitiu “desconforto”, defendendo uma “reflexão alargada”.

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