A maior preocupação de Beatriz é onde vai, agora, viver. Neste momento, a resposta é na rua. Aos 23 anos, com dois filhos de cinco anos e dez meses, a mulher estava, até agora, numa cave transformada em casa, que ocupou ilegalmente.
"Estava no bairro da Torre, numa barraca, e a Câmara mandou a barraca abaixo. Então, da Torre vim para a casa do meu pai, só que, como tenho muitos conflitos com ele, estava sempre a pedir-me para ir para a rua e eu e vim para a cave, começou por explicar, à SIC, Beatriz.
"A cave estava cheia de lixo, com cães a viver lá. Eu limpei e fui para lá viver. Não acho que tenho direito a viver ali. Eu acho que tenho direito a uma habitação, ser realojada pela Câmara, que ao ver esta situação, devia ajudar as pessoas, não pôr para a rua, porque é desumano pôr uma mãe solteira com duas crianças na rua", disse ainda.
Depois de receber uma notificação para sair do local, em março, e de um braço-de-ferro com a Câmara de Loures, a polícia entrou pela manhã na casa de Beatriz e retirou todo o interior.
"A porta do prédio estava partida, e eles chegaram lá e empurraram a porta para o chão", contou.
A autarquia diz que não havia necessidade de viver na cave e que Beatriz até tem várias alternativas.
"Esta senhora foi realojada com os seus progenitores, que têm uma casa municipal de tipologia quatro. Esta senhora é também beneficiária de prestações sociais acima de mil euros, portanto, eu creio que todos concordaremos que estão criadas as condições para que esta senhora encontre uma solução habitacional para o caso dela", considerou Sónia Paixão, vice-presidente da Câmara de Loures.
Beatriz, porém, contestou. Diz que a casa não tem espaço suficiente para a quantidade de pessoas que moram lá.
"Eu recebo 500 euros de abono porque sou mãe solteira e 400 euros de rendimento de inserção social, porque não trabalho. Com esse dinheiro, como eu alugo uma casa?", perguntou ainda.
A Câmara garante que a candidatura de Beatriz para habitação não foi submetida, porque falta o documento da regulação do poder paternal.
"Como ela não entregou esse elemento, o pedido de habitação não está devidamente carregado junto aos nossos serviços", explicou a vice-presidente da Câmara de Loures.
Por seu lado, Beatriz alegou ter entregado um papel provisório da conservatória.
Na Urbanização Municipal Quinta das Mós, foram seladas, esta quarta-feira, quatro caves, três delas habitadas. Além de Beatriz, uma outra mãe vivia com um filho, e um homem tinha também ocupado um dos locais.
"Estamos a falar de espaços comuns que foram indevidamente ocupados por pessoas. São áreas comuns do prédio, propriedade da Câmara, e não são áreas com condições de habitabilidade para ninguém. Foram feitos atendimentos sociais e explicando que teriam de sair. A Câmara tomou posse daquilo que é seu e libertou as áreas técnicas e os espaços comuns para que possamos inclusivamente, muito em breve, iniciar uma importante obra de reabilitação daquele bairro municipal", informou vice-presidente da Câmara de Loures.