País

Câmara de Loures despeja família que vivia ilegalmente em cave, autarquia diz que "mil euros de apoios" é suficiente

Num bairro, em Camarate, moram cerca de mil pessoas, mas nem todas sabem onde dormir. Duas famílias foram despejadas pela Câmara de Loures. Viviam em caves de forma ilegal. Beatriz, mãe de dois filhos menores, diz que não tem alternativa.

João Maldonado

António Cunha

A maior preocupação de Beatriz é onde vai, agora, viver. Neste momento, a resposta é na rua. Aos 23 anos, com dois filhos de cinco anos e dez meses, a mulher estava, até agora, numa cave transformada em casa, que ocupou ilegalmente.

"Estava no bairro da Torre, numa barraca, e a Câmara mandou a barraca abaixo. Então, da Torre vim para a casa do meu pai, só que, como tenho muitos conflitos com ele, estava sempre a pedir-me para ir para a rua e eu e vim para a cave, começou por explicar, à SIC, Beatriz.
"A cave estava cheia de lixo, com cães a viver lá. Eu limpei e fui para lá viver. Não acho que tenho direito a viver ali. Eu acho que tenho direito a uma habitação, ser realojada pela Câmara, que ao ver esta situação, devia ajudar as pessoas, não pôr para a rua, porque é desumano pôr uma mãe solteira com duas crianças na rua", disse ainda.

Depois de receber uma notificação para sair do local, em março, e de um braço-de-ferro com a Câmara de Loures, a polícia entrou pela manhã na casa de Beatriz e retirou todo o interior.

"A porta do prédio estava partida, e eles chegaram lá e empurraram a porta para o chão", contou.

A autarquia diz que não havia necessidade de viver na cave e que Beatriz até tem várias alternativas.

"Esta senhora foi realojada com os seus progenitores, que têm uma casa municipal de tipologia quatro. Esta senhora é também beneficiária de prestações sociais acima de mil euros, portanto, eu creio que todos concordaremos que estão criadas as condições para que esta senhora encontre uma solução habitacional para o caso dela", considerou Sónia Paixão, vice-presidente da Câmara de Loures.

Beatriz, porém, contestou. Diz que a casa não tem espaço suficiente para a quantidade de pessoas que moram lá.

"Eu recebo 500 euros de abono porque sou mãe solteira e 400 euros de rendimento de inserção social, porque não trabalho. Com esse dinheiro, como eu alugo uma casa?", perguntou ainda.

A Câmara garante que a candidatura de Beatriz para habitação não foi submetida, porque falta o documento da regulação do poder paternal.

"Como ela não entregou esse elemento, o pedido de habitação não está devidamente carregado junto aos nossos serviços", explicou a vice-presidente da Câmara de Loures.

Por seu lado, Beatriz alegou ter entregado um papel provisório da conservatória.

Na Urbanização Municipal Quinta das Mós, foram seladas, esta quarta-feira, quatro caves, três delas habitadas. Além de Beatriz, uma outra mãe vivia com um filho, e um homem tinha também ocupado um dos locais.

"Estamos a falar de espaços comuns que foram indevidamente ocupados por pessoas. São áreas comuns do prédio, propriedade da Câmara, e não são áreas com condições de habitabilidade para ninguém. Foram feitos atendimentos sociais e explicando que teriam de sair. A Câmara tomou posse daquilo que é seu e libertou as áreas técnicas e os espaços comuns para que possamos inclusivamente, muito em breve, iniciar uma importante obra de reabilitação daquele bairro municipal", informou vice-presidente da Câmara de Loures.

Últimas