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"Geração que não se resigna” chamada a intervir: plataforma pede aos jovens soluções para o país

A plataforma online Coletivo Matéria chama os jovens do país a depositar as suas ideias para estas serem materializadas por grandes personalidades de diversas áreas da sociedade civil. Se és jovem, tens uma ideia e queres um Portugal melhor para cá viveres, presta atenção.

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Maria Madalena Freire

O país está mergulhado em crises, mas com poucas respostas. Os jovens podem ter algo a dizer, mas não lhes é dada a projeção para ajudar a que os problemas se tornem em soluções. Sete amigos decidiram criar um Manifesto Jovem que levou ao nascimento da plataforma Coletivo Matéria para que a tua ideia possa ser uma solução para o país que “espera”, mas não alcança.

A geração mais qualificada é, hoje em dia, a geração que se sente “mais frustrada”, segundo Mafalda Rebordão. Os jovens mais qualificados de sempre são, muitas vezes, “obrigados” a sair ou são excluídos dos centros de decisão do país.

“É curioso, porque somos a geração mais bem preparada de sempre. A educação teve um grande salto nos últimos anos, nove em cada dez dos jovens que temos entre os 20 e 24 anos já tem o ensino secundário, mas demoramos cada vez mais tempo a chegar a posições de liderança”, explica Mafalda Rebordão, cujo currículo aos 26 anos já é difícil de resumir.

Entre o seu posto na Google em Londres, o projeto Ponto Zero, ser parte do Grupo de Reflexão do Presidente da República e membro executivo do board da NOVA SBE, Mafalda tem-se empenhado em qualificar cada vez mais os jovens com ferramentas de liderança para que possam assumir essas posições para os quais se mostram qualificados.

Nesse desejo de “empurrar” as novas gerações a assumir posições, brotou o Coletivo Matéria, um grupo de amigos - em que se encontra Miguel Herdade, André Silva Sancho, Inês Franco Alexandre, Inês Ayer, José Paulo Soares, Sara Aguiar e a Mafalda - que criou um Manifesto Jovem que se transformou numa plataforma online, onde todos os jovens do país são chamados a contribuir com soluções para as mais diversas matérias. Mas já lá vamos.

“Um grupo de sete amigos criou isto de uma frustração, mas uma frustração bonita. Estamos em contextos diferentes, quatro estão fora de Portugal, em Londres, Nova Iorque, Genebra, e sentimos muito pouca representatividade e não nos revermos nos líderes atuais”, detalha a jovem empreendedora.

Para esse grupo, cunhado de Coletivo Matéria, era evidente que os jovens não faziam parte das decisões sobre o futuro, o que parece ser contraproducente, tendo em conta que o futuro pertence aos jovens. Para Mafalda, “é importante ter pessoas com experiência, mas os jovens trazem ideias frescas, uma visão completamente diferente do mundo”.

Tal como reforça o ainda adolescente João Paulo Soares, um dos membros do grupo, “com vontade de mudança e intervir, aquilo que fazemos pode fazer a diferença”

Em ano de eleições Legislativas, Europeias, nos Açores - e, quem sabe, na Madeira - o grupo achou que era “agora ou nunca” e que os jovens precisavam de estar a intervir mais e melhor no que é decidido.

O primeiro passo: Manifesto

Para os sete amigos, o evidente era escrever um Manifesto Jovem, onde, com vários assinantes, pudessem apelar aos intervenientes e decisores a terem bom-senso e tomarem em conta diversas circunstâncias que os mais novos sentem que não são consideradas.

“Muitos de nós foram os primeiros da família a terminar o ensino, muitos de nós são fruto de um esforço coletivo, o orgulho da vila e da cidade. Mas precisamos de mais. Mais espaço, mais vontade, mais atenção, mais oportunidades, mais. Mais lugares à mesa (somos muitos para jantar!)”, lê-se no Manifesto.

No entanto, como diz Mafalda Rebordão, o manifesto chamado “Ter Voz na Matéria” parecia insuficiente.

“Pensamos que, mais uma vez, nos estávamos a colocar do lado deste Portugal que espera, nós queremos estar num Portugal que quer liderar, arriscar”, assume.

O objetivo era, não só, ter voz na matéria - daí Coletivo Matéria -, mas também materializar as soluções. O problema, como diz a jovem empreendedora, não é os jovens não terem ideias, porque as têm, mas é não terem os recursos para as implementar.

O segundo passo: Plataforma

Sendo o Manifesto apenas um abstrato da frustração sentida, o grupo Coletivo Matéria decidiu criar uma plataforma, com o mesmo nome, onde essas ideias pudessem ser todas colocadas e, depois, implementadas. Mas como funciona?

“A plataforma fica livre esta sexta-feira e qualquer jovem do país pode submeter as suas ideias. Depois, em vez de serem avaliadas por pessoas mais velhas, quem faz a curadoria das ideias são outros jovens, que se associam e são assinantes do Manifesto”, explica Mafalda Rebordão.

Para além desses 50 assinantes, jovens com menos de 35 anos, existem os subscritores, que têm mais de 35 anos e “poder” na sociedade civil para levar as ideias ao seu fim desejado.

Por isso, os “over 35” fazem a mentoria das ideias já triadas pelos assinantes e, a cada uma destas matérias, liga-se a “stakeholders”, isto é, pessoas e instituições que têm a capacidade de implementar estas ideias.

“Esta é a grande diferença entre ter uma voz e um lugar de fala”, elucida.

Os jovens assinantes do Manifesto e curadores das ideias da plataforma foram escolhidos tendo em vista a maior diversidade possível, para representar cada canto do país.

“Tentámos ter um grupo mais diverso possível de todas as áreas e orientações políticas para termos uma representatividade do país, pessoas que independentemente do seu contexto conseguiram quebrar a bolha e ter uma voz”, detalha Mafalda Rebordão.

Entre esses está a Jéssica Silva, Martim Sousa Tavares, Tiago Fortuna, Vicente Valentim e Diogo Pinheiro da Silva.

Nos “mais velhos”, que terão a missão de transportar as ideias do online para a prática, estão personalidades da sociedade civil como Dino d'Santiago, Conceição Zagal, Pedro Santa Clara, Carlos Fiolhais, Maria Filomena Mónica e Ana Vidigal.

Inês Alexandre, nascida e criada no Algarve, parte do Coletivo Matéria, tem esta inquietação para resolver: que a nova geração tenha palco, voz e lugar de fala. Acredita, então, que com esta plataforma isso venha a acontecer.

Um “call for action”

Tudo se resume a um desejo: o cessar de uma frustração de impotência pelo pouco acesso que jovens qualificados e com ideias frescas têm para alcançar os centros de decisão.

O futuro não está nas suas mãos e, por isso, o Coletivo Matéria, juntamente com Miguel Herdade, um outro membro do grupo, convoca todos os jovens para que participem neste fórum de ideias, de discussão e reflexão para empurrar Portugal para o progresso. Sobretudo, Miguel Herdade quer dar espaço aos que são muitas vezes ignorados pela comunicação social e partidos políticos.

O grupo Coletivo Matéria, constituído por jovens dos Açores, Algarve, Lisboa, Porto, tenta unir todas as pontas soltas do país e criar um único espaço em que todas as diferenças e contextos diversos se unem por um único objetivo: um futuro melhor em Portugal.

Assim, talvez, dizer “adeus” deixe de ser a regra e passe a ser a exceção.

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