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Buscas Madeira: arguidos há uma semana à espera de interrogatório "não é aceitável"

Pedro Calado, Custódio Correia e Avelino Farinha estão detidos há precisamente uma semana, no âmbito das buscas realizadas na Madeira, mas ainda não foram ouvidos pelo juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal. Esta atuação, que a Ordem dos Advogados considera que está a tornar-se “frequente e banalizada” é inaceitável.

Ana Lemos

De adiamento em adiamento, devido à greve dos funcionários judiciais ou não, a verdade é que os três detidos, no âmbito da megaoperação que levou dezenas de elementos da Polícia Judiciária à Madeira, ainda não foram ouvidos no primeiro interrogatório judicial. A previsão mais recente indica que possam começar esta quarta-feira a ser ouvidos, mas nada é certo.

Perante esta situação, e já depois dos advogados dos três detidos - o ex-autarca do Funchal Pedro Calado e os empresários Custódio Correia e Avelino Farinha - terem contestado a situação em que se encontram, ou seja, detidos há uma semana, a Ordem dos Advogados também se manifestou publicamente por estar preocupada com esta e outras situações semelhantes.

“A Ordem dos Advogados tem constatado com preocupação a existência de detenção de cidadãos/ãs para serem submetidos a primeiro interrogatório judicial, ficando detidos/as por vários dias sem que o interrogatório seja concluído num prazo razoável e proporcional. Independentemente dos entendimentos jurídicos que possam existir quanto a esta matéria, não é aceitável que este tipo de atuação se torne frequente e banalizada, seja em casos mediáticos seja em processos contra o/a cidadão/ã anónimo/a”, lê-se no comunicado publicado no site da Ordem.

Lembrando que “vivemos num Estado de Direito Democrático, onde a liberdade individual de cada um deve ser tratada com cuidado e rigor, não devendo ser coartada a não ser nos casos legalmente previstos”, a Ordem salienta ainda que “todo o arguido se presume inocente até ao trânsito em julgado da sentença de condenação”.

Sem certezas ainda sobre quando começaram a ser ouvidos os três arguidos detidos, a Ordem dos Advogados diz esperar, em jeito de conclusão, que “este tipo de atuação seja revisto rapidamente e (…) que situações como estas não podem continuar a existir”.

Investigação prossegue, o que se sabe

Fonte judicial indicou que o processo foi distribuído ao juiz Jorge Bernardes de Melo, do Tribunal Central de Instrução Criminal, e os arguidos e os advogados tiveram na passada sexta-feira acesso aos factos em causa e aos elementos de prova sobre o caso desencadeado pela Polícia Judiciária (PJ) e pelo Ministério Público (MP).

Ainda de acordo com fonte judicial, o inquérito vai começar pelo empresário Custódio Correia, que é o principal acionista do grupo ligado à construção civil Socicorreia, seguindo-se Avelino Farinha, líder do grupo de construção AFA, e, por último, o presidente da Câmara do Funchal

Na sequência de cerca de 130 buscas domiciliárias e não domiciliárias efetuadas pela PJ, sobretudo na Madeira, mas também nos Açores e em vários zonas do continente, foram detidos o presidente da Câmara do Funchal, Pedro Calado (PSD), o líder do grupo de construção AFA, Avelino Farinha, e o CEO e principal acionista do grupo ligado à construção civil Socicorreia, Custódio Correia, que é sócio de Avelino Farinha em várias empresas, segundo disse à Lusa fonte da investigação.

No âmbito deste processo, foi ainda constituído arguido o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque (PSD).

De acordo com a Polícia Judiciária, nesta operação estão em causa suspeitas dos crimes de corrupção ativa e passiva, participação económica em negócio, prevaricação, recebimento ou oferta indevidos de vantagem, abuso de poderes e tráfico de influência.

O que dizem os advogados dos detidos

Questionado sobre as escutas no processo, advogado de Avelino Farinha diz ser normal que houvesse um tratamento de admiração entre Avelino Farinha e Pedro Calado.

Já o advogado de Pedro Calado critica as notícias sobre o que foi encontrado nas buscas na Madeira. Diz que não correspondem à realidade e que vê fugas de informação todos os dias. Quanto ao interrogatório, acredita que o cliente só será ouvido amanhã.

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