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Criação de bolsa com 20 mil professores punha fim a alunos sem aulas

Um estudo do ISCTE sugere a criação de uma bolsa com professores destinados a substituir docentes que faltam, que afetam todos os dias mais de cinco mil turmas em Portugal, oferecendo estabilidade e colmatando alguns problemas na educação.

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Lusa

Os professores do ensino básico e secundário dão quase dois milhões de dias de faltas por ano, sendo muitas vezes substituídos por colegas, revela o estudo realizado por uma equipa de investigadores do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa.

Deste modo, todos os dias cerca de cinco mil turmas são afetadas por este absentismo, segundo o estudo "A realidade demográfica e laboral dos professores do ensino público em Portugal 2016/2017 -- 2020/2021". Isabel Flores, coordenadora do estudo, indica que um dos principais motivos para a existência de turmas sem professores é a dificuldade de os substituir em caso de necessidade.

Para a coordenadora, a solução deveria passar pela criação de uma bolsa com professores com contratos que lhes dessem estabilidade.

Em vez de as escolas tentarem encontrar alguém disponível para trabalhar apenas algumas horas enquanto o colega não regressa ao trabalho, seria criada uma bolsa de docentes que poderiam dar apoio à escola e, quando fosse preciso, substituíam colegas, exemplificou.

"O sistema educativo deve preparar-se todos os anos para substituir 12% dos seus docentes por razões de doença", refere o estudo, indicando que essas substituições têm, maioritariamente, uma duração de 120 a 240 dias.

Isabel Flores estima que sejam precisos cerca de 20 mil docentes, sendo que nem todas as disciplinas necessitam do mesmo numero de professores.

Tendo em conta estas variáveis, os investigadores concluíram que a bolsa de recrutamento deveria ter cerca de 3.200 docentes de 1.º ciclo, que poderiam ser chamados ao longo do ano para substituir colegas, 1.485 no Pré-Escolar, 1.167 professores de Português, 1.058 de Educação especial, 700 de Matemática e 654 de Inglês.

O estudo divulgado esta segunda-feira mostra também quem são estes professores e que tipo de contratos os liga às escolas portuguesas, assim como revela como são geridos os horários e quais as disciplinas que lecionam.

O retrato é o de uma classe envelhecida e mais concentrada no litoral do país. Há cada vez menos alunos e cada vez mais professores, que devido à avançada idade mas também pelos cargos que desempenham nas escolas, acabam por ter uma redução da componente letiva.

A investigadora sublinha que em Portugal existe um "rácio baixíssimo" de alunos por professores: No 1.º ciclo ronda entre os 11 e 12 alunos por docente e nos restantes ciclos baixa para 6 ou 7 alunos por professor.

"É muitíssimo baixo, porque as turmas são pequenas, ao contrário do que é vulgarmente espalhado. Em Portugal temos turmas pequenas, temos turmas maiores em Lisboa e no Porto, que são zonas de maior pressão populacional, mas depois no interior são turmas muito pequenas", salientou, garantindo que é um dos valores mais baixos da OCDE.

A professora salientou que neste momento ainda não são apresentadas recomendações para políticas públicas, mas estas serão incluídas no estudo final.

Com Lusa.

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