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Criança sodomizada: quais as consequências? Como se vive na mesma casa de um agressor?

Um rapaz de 11 anos foi sodomizado por oito colegas e o irmão também participou. A situação aconteceu numa escola de Bragança, com recurso a uma vassoura. Para além de uma funcionária ter presenciado o momento e não ter feito nada, a mãe soube no próprio dia e também não reagiu. Que impacto poderá ter este episódio na criança? A SIC Notícias foi perceber.

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Mariana Guerreiro

Um agressor a viver na mesma casa da vítima e ainda debaixo desse mesmo teto uma mãe que, segundo a Comissão de Proteção das Crianças e Jovens (CPCJ), nada fez depois do filho agredido ter contado o episódio traumatizante que viveu. A sodomização ocorreu no interior da escola na presença de, pelo menos, uma funcionária, que também "nada fez" para travar os agressores. Esta foi a situação de terror vivida por uma criança de 11 anos, na passada sexta-feira.

“Tendo em conta que o irmão fez parte desta situação, as consequências são ainda mais graves. Para além dos colegas que conhece e que frequentam o mesmo meio, tem também aqui a parte intrafamiliar, ou seja, uma pessoa com a qual ele convive no âmbito escolar, mas também em âmbito familiar", explicou, à SIC, a psicóloga forense e com experiência na CPCJ, Marta Terroso.

Uma vítima, várias sequelas

Para além das consequências físicas, a lista de possíveis sequelas psicológicas é longa. A humilhação, o estabelecer relações de confiança com terceiros, as consequências no rendimento escolar e implicações tanto nas relações sexuais futuras como em relacionamentos, são algumas das consequências que a criança de 11 anos pode vir a sofrer, mencionou a psicóloga.

“A confiança fica comprometida a partir do momento em que uma pessoa que nos deve proteger proporciona aquela experiência traumática”.

Para além destas, Marta Terroso também não deixou de fora a possível sintomatologia depressiva e ansiosa.

“As dificuldade de convivência com os colegas de escola, com o irmão em casa e a gestão de emoções negativas relacionadas com a raiva e com a culpa", podem ser mais algumas sequelas do trauma.

Agressor vive na mesma casa. O que deve ser feito?

Mediante a avaliação feita, terá de existir um “acompanhamento psicológico, de proximidade, e de fazer uma avaliação profunda daquilo que é a dinâmica familiar para perceber quais são as melhores respostas" tanto para a vítima como para o agressor, sublinhou a psicológica.

“Aquilo que deveria ser feito enquanto comunidade é o funcionamento rápido e uma boa avaliação feita pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) a todos os parâmetros da vida, não só da vítima como do agressor e dos outros intervenientes".

Para além disto, a ação da justiça e da CPCJ também deverá ser rápida, defendeu a Marta Terroso. A vítima vai passar pelo “impacto da repetição do depoimento", quer isto dizer que “vai ter que repetir em discurso a experiência pela qual passou nos mais variados serviços. Portanto, vai estar constantemente a reviver esta experiência e isso também traz, naturalmente, consequências".

Por fim, também terá de haver uma desconstrução dos fatores comunitários, tais como os familiares, sociais e individuais.

“Ou seja, há série de coisas que deviam ser trabalhadas em comunidade, através de programas de prevenção e a banalização da violência”, acrescentou.

Mas, o que é certo é que esta é uma “situação multiproblemática”, porque o agressor e a vítima estão dentro do mesmo contexto familiar, “dificultando a dinâmica em casa”.

Um grupo que causava o terror

Em relação aos agressores, poderão estar em causa fatores individuais “como a influência genética, a capacidade de controlo, a procura de sensações como superar aquilo que é o limite e o que é o risco”, disse ainda a psicóloga.

“Normalmente, há uma dificuldade na reflexão das consequências dos atos, uma maior impulsividade e um rendimento académico baixo”.

No entanto, fatores familiares também poderão ter impacto, como as “práticas parentais, a ausência de limites, o estabelecimento de regras, a exposição a comportamentos violentos, ou até se já houve prévio abuso infantil, ou se existe violência doméstica”.

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