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Caos na Saúde: problemas nos hospitais não podem esperar "por um novo Governo"

A greve dos médicos está a ter um grande impacto nas consultas e cirurgias. Os serviços mais críticos são os blocos operatórios com a maioria das salas encerradas e as urgências pediátricas estão a meio gás. O objetivo das greves é pressionar o Ministério da Saúde a chegar a um acordo ainda antes das novas eleições.

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Kathleen Araújo

Paula Castanho

Mariana Saraiva

A greve dos médicos registou na terça-feira uma adesão entre 80 a 85%, segundo dados da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), enquanto o Ministério da Saúde avança com 26,7%. Milhares de doentes em todo o país viram consultas e cirurgias a serem adiadas.

A saúde é uma prioridade, mas por estes dias é mais uma viagem em vão para muitos utentes. Entre os lesados por estas estas greves, estão crianças que precisam de cuidados.

"Tinha uma consulta de neurologia com a menina. Andamos nisto há dois anos com consultas marcadas e desmarcadas, entretanto chegamos ali dentro e dizem-nos que não temos consulta porque era greve. Começa a ser complicado, porque o mês passado já não conseguimos fazer um exame que era necessário devido a uma greve", conta uma mãe.

No hospital de São João, no Porto, o impacto do segundo dia de greve, convocada pela FNAM, sentiu-se nas cirurgias programadas e nas consultas externas.

A presidente da FNAM, Joana Bordalo e Sá, adiantou que na terça-feira a adesão foi elevada, na ordem dos 80 a 85%, esperando-se que esta quarta-feira seja semelhante. De acordo com os dados recolhidos pelas diversas instituições do Ministério da Saúde, a taxa de adesão à greve de terça-feira, terá atingido um máximo de 26,7%.

Joana Bordalo e Sá acusa o Governo de desprezo pelos utentes e doentes do SNS, uma vez que os médicos ainda não conseguiram voltar à mesa das negociações.

“Ainda não temos qualquer tipo de resposta do Sr. ministro da Saúde, isto revela mesmo um desprezo e até uma falta de responsabilidade para com os utentes e com o SNS. É fundamental resolver a situação dos médicos e a FNAM está com soluções, que esperamos ver incorporadas”, refere a presidente da FNAM.

O caso não é diferente no maior hospital do país, em Santa Maria muitas consultas também foram canceladas e em alguns serviços os doentes ficaram sem qualquer perspetivas de ter uma consulta.

"Preciso desta consulta, para poder fazer um trabalho melhor. É um exame detalhado devido a um transplante que fiz", sublinha um utente de oftalmologia.

Os médicos em greve exigem a retoma das negociações, com o Governo. A subida subida generalizada dos salários é o principal diferendo.

Os sindicatos pedem um aumento de 30%, mas o Ministério da Saúde avançou com 8,5% e redução do horário de trabalho compensando, desta forma, o valor à hora.

"As pessoas não podem recorrer às urgências porque estão encerradas, não têm médico de família, isto são problemas que urge resolver. Não podemos esperar seis meses, um ano por um novo Governo. A nossa luta é enquanto o nosso problema e o do SNS não estiver resolvido", explica Tânia Russo, da FNAM.

No Hospital Universitário de Coimbra as consultas e exames têm sido adiadas, embora muitos serviços estejam a funcionar na normalidade. Na região centro o balanço da adesão á greve ronda os 70%.

As negociações entre o Ministério da Saúde e os sindicatos iniciaram-se em 2022, mas a falta de acordo tem agudizado a luta da classe, com greves e declarações de escusa ao trabalho extraordinário além das 150 horas anuais obrigatórias, o que tem provocado constrangimentos e fecho de serviços de urgência em hospitais de todo o país.

Com Lusa

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