Hugo Ferrinho Lopes, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, considera que, no discurso ao país após a demissão do primeiro-ministro, o Presidente da República passou uma mensagem "muito ténue" de desconfiança nas instituições e nos atores políticos. O especialista apresenta duas razões que, no seu entender, levaram Marcelo Rebelo de Sousa a optar por dissolver o Parlamento.
Na SIC Notícias, explica que o Presidente da República podia, face à crise política, ter optado por nomear um novo Governo, isto é, pedir ao Partido Socialista para propor um novo primeiro-ministro. No entanto, para Hugo Ferrinho Lopes, Marcelo decidiu não o fazer por duas razões: a credibilidade das instituições e o mecanismo de autolimitação.
"O mais relevante é a relevância dos poderes políticos e ter dito que o Conselho de Estado estava favorável à dissolução da Assembleia", diz.
Sobre o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa ao país, considera que foi "simpático" com António Costa, primeiro-ministro demissionário, e que deixou a mensagem de que os cidadãos têm a "última palavra" do ponto de vista político.
Por outro lado, o Presidente da República passou uma mensagem "subliminar, muito ténue" de desconfiança no regular funcionamento das instituições e dos atores políticos, uma mensagem que pode "marcar a campanha eleitoral".
Questionado sobre se o Orçamento do Estado é a principal preocupação de Marcelo, diz não entender "um dos argumentos" do chefe de Estado.
"Um dos argumentos que o Presidente da República deu foi a execução do PRR. Mas o PRR não tem nada a ver com o Orçamento do Estado. É um mecanismo distinto que não depende do OE", explica.
O investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa destaca que Marcelo deu tempo ao "maior partido do Parlamento" para se reorganizar, ter eleições internas e eleger um novo líder que possa conduzir o partido nas eleições.