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Médicos sem acordo: hospitais no Norte e Lisboa à beira da rutura antes do inverno

Os médicos dizem que os atuais constrangimentos em várias especialidades vão piorar e podem mesmo chegar a um ponto de rutura. No Norte e em Lisboa já há urgências a encerrar e a serem compensadas por outros hospitais. Os utentes vão percorrendo o país à procura de soluções.

Márcia Torres

Diogo Freitas Martins

Marta Sobral

Os médicos que criaram o movimento de recusa às horas extraordinárias em Setembro traçam um cenário negro para o final do ano nos hospitais do Norte do país. Já em Lisboa, os hospitais estão com dificuldades no cumprimento das escalas para o próximo mês. O hospital de Almada já informou que vai encerrar a urgência pediátrica durante a noite a partir de amanhã.

A partir de amanhã, o Hospital de Penafiel vai encerrar para o exterior o bloco de partos e deixa de admitir utentes na urgência de obstetrícia e ginecologia, até nova indicação.

O Hospital de S. João do Porto servirá, de novo, para remediar o problema da falta de médicos no Norte.

“Desde Bragança passando por Penafiel até S. João q já tenho colegas apresentaram escusa, vamos drenando utentes de hospital em hospital, até que vamos chegar fim de linha que não temos rede”, diz Susana Costa do Movimento Médicos em Luta.

O movimento começou em setembro. Desde então, mais de 2.500 médicos terão apresentado escusa às horas extraordinárias, além das previstas por lei.

Segundo os médicos, todo o Norte está condicionado e em dezembro pode mesmo chegar a um ponto de rutura.

“Esperamos que dezembro seja impraticável, meses críticos, temos verificado aumento tempo internamento doentes, estão a ser adiadas consultas, cirurgias oncológicas, implantação de sistemas e efetuar quimioterapia em alguns hospitais”, acrescenta Susana Costa.

Os médicos estão apreensivos e não partilham da mesma confiança manifestada ontem pelo ministro da Saúde para chegar a um acordo.

“Não nos auguram nenhuma possibilidade acordo, continuamos ser confrontados com diplomas aprovados unilateralmente pelo Ministério e são esses diplomas em cima da mesa para que aceitemos”, conclui Susana.

Um impasse que deixa em suspenso o atendimento nas urgências dos próximos meses. Como é o caso de Lisboa.

As falhas de Lisboa

Caetana tem 15 anos e duas doenças raras que a obrigam a fazer todos os meses a viagem de Beja até Lisboa.

Com novembro a aproximar-se, a mãe foi avisada do que pode acontecer.

“O Dona Estefânia está a receber mais crianças do que habitual e não nos garantem que cheguemos de Beja e nos consigam arranjar cama para fazer o tratamento”, confessa.

O hospital pediátrico de Lisboa é dos poucos que vai conseguir manter nos próximos dias a urgência pediátrica a funcionar durante a noite.

A falta de médicos levou, por exemplo, o Garcia de Orta, em Almada a anunciar o fecho do serviço a partir de quarta- feira, das 20:00 às 8:30. Encerramentos que podem significar a sobrecarga de outros hospitais.

As preocupações dos utentes estendem-se pelos vários hospitais, mesmo os dos mais centrais, como é o caso do Santa Maria.

A situação pode ser mais grave para quem tem de percorrer regularmente grandes distâncias para ter uma consulta.

Por enquanto, o Santa Maria afasta qualquer situação de rutura e diz estar a trabalhar para que isso não aconteça.

“Não há nada que nos diga neste momento que não iremos cumprir os mínimos das escalas mas estamos a trabalha-las. Não há nada que nos diga que estamos numa situação de disrupção”, Lucindo Ormonde, diretor clínico adjunto.

O alerta sobre a dificuldade em cumprir as escalas durante o mês de novembro foi deixado pelo diretor executivo do SNS. Fernando Araújo disse até que pode ser o pior mês em 44 anos.

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