A reunião do Conselho de Estado desta terça-feira, que se realizou no Palácio de Belém, durou cerca de três horas e reforçou aquilo que já é percetível há algum tempo: Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa não estão em plena sintonia. Bernardo Ferrão analisa, no Primeiro Jornal, esta questão, que “em nada serve aos portugueses”.
O jornalista da SIC constata que o “clima” entre o Presidente e o primeiro-ministro se “alterou completamente” desde o episódio que envolveu o Ministério das Infraestruturas e quase levou ao afastamento de João Galamba.
Diz que António Costa “esvaziou” o Conselho de Estado e a “intenção do Presidente da República, que era montar" um clima de tensão. Acrescenta que ao não alimentar esse clima, não dizendo nada, António Costa “deixou o Presidente da República a falar sozinho”.
“António Costa tem vindo a esticar a corda”
“Há aqui um ambiente entre os dois que tem vindo a agudizar-se e parece-me que, por um lado, foi iniciado pelo Presidente da República (…) que, claramente num excesso, começa a falar da dissolução [do Parlamento] ainda antes do verão (…) Por outro lado, o que se percebe é que, desde esse momento, António Costa tem vindo a esticar a corda e está numa aceleração contínua porque sabe que o Presidente da República não tem ainda uma alternativa”, constata.
O jornalista refere que o primeiro-ministro “tem posto Marcelo Rebelo de Sousa isolado várias vezes”, destacando o episódio que envolveu Galamba, a saída precoce de Costa do Conselho de Estado de julho, a não alteração do pacote Mais Habitação, apesar do veto presidencial, e, por fim, o silêncio do chefe de Estado durante a reunião desta quarta-feira.
Vinca que o clima entre ambos “é complicado”, antes de referir que, por norma, este tipo de situações não são “muito favoráveis ao primeiro-ministro e ao Governo”.
“O primeiro-ministro, neste momento, não tem muito a perder"
“O primeiro-ministro, neste momento, não tem muito a perder. O Presidente da República também não tem muito a perder, mas há aqui um lado de fragilização do Presidente que também convém notar”, afirma Bernardo Ferrão, antes de questionar: “É lícito perguntar o que é que o Presidente fez durante todos estes anos em que esteve muito agarrado ao Governo, em que apoiou muito António Costa e que, de certa forma, também percebeu por onde estavam a ir as coisas no país?”.
O ambiente entre as duas figuras do Estado - que Bernardo Ferrão entende como “politicamente escaldante” - "nada serve aos portugueses”, considera. Conclui afirmando que Marcelo e Costa “talvez devessem cuidar mais” dos cidadãos do país e “não estar tão envolvidos nesta guerrilha entre os dois”.