Foi há quase dois anos, a 23 de junho de 2021. Nessa manhã, a Polícia Judiciária assistia ao longe ao encontro de Paulo Malafaia e Elad Dror, dois promotores imobiliários, numa esplanada no centro de Matosinhos.
De acordo com o despacho do Ministério Público, a que a SIC teve acesso, e que justificou as buscas e as detenções desta terça-feira, a vigilância da PJ terá depois captado o momento em que Dror passou para as mãos de Malafaia a bolsa com 100 mil euros.
Ambos terão combinado entregá-la ao advogado João Lopes, o alegado testa de ferro de Patrocínio Azevedo, vice-presidente da CM de Gaia, como suborno para a manutenção da capacidade construtiva do Riverside, um empreendimento de luxo de 110 milhões de euros.
Como terá acontecido a entrega
De acordo com o documento, João Lopes, também conhecido como o "gorila", já estava à espera no parque de estacionamento do NorteShopping. Quando chegou Paulo Malafaia, ambos terão entrado no interior do centro comercial.
Entraram primeiro numa loja, para comprarem uma bolsa, e depois dirigiram-se à casa de banho, onde Malafaia terá passado 99.600 euros para a bolsa que entregou ao advogado. Os restantes 400 euros terão sido usados para comprar, numa loja da Apple, uma coluna de som que também foi entregue a João Lopes.
A PJ e o MP acreditam que esta foi apenas uma das entregas de contrapartidas a Patrocínio Azevedo.
O despacho das buscas relata ainda a entrega ao autarca, sempre por intermédio do alegado testa de ferro, de relógios de luxo, todos com valores superiores a três mil euros, no sentido de beneficiar os interesses imobiliários dos empresários.
Operação Babel: corrupção, abuso de poder e negócios de milhões
O vice-presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, Patrocínio Miguel Vieira Azevedo, e outras seis pessoas, foram esta terça-feira detidas pela Polícia Judiciária (PJ) durante as buscas realizadas nas autarquias de Gaia e do Porto, centradas na área do urbanismo.
Patrocínio Azevedo é líder da Concelhia do PS em Gaia há 10 anos e é o rosto que sobressai na Operação Babel, para além de vice-presidente da autarquia de Gaia, é apontado como o sucessor do atual presidente.
A PJ investiga crimes de corrupção, prevaricação e abuso de poder ligados ao licenciamento urbanístico de projetos que ascendem os 300 milhões de euros.
O CEO do grupo imobiliário Fortera, Elad Dror, há 12 anos em Portugal, também foi detido por suspeitas de corrupção. Esta terça-feira, em comunicado, o grupo garantiu estar a colaborar com as autoridades.
Além do CEO da Fortera, também foi detido outro empresário ligado ao ramo do imobiliário: Paulo Malafaia. Um “velho conhecido” que recentemente já tinha sido detido no âmbito da Operação Vortex.
Também o ateliê do arquiteto Souto Moura também foi alvo de buscas. Era o arquiteto do Skyline, o prédio mais alto de Portugal, que estava para ser construído em Gaia.