Bella Gonçalves, ex-aluna de doutoramento Boaventura de Sousa Santos em 2014 confirma à SIC que viveu uma situação de assédio e que decidiu dar a cara por causa da "postura de negação e descredibilização" do sociólogo português. Diz que havia mais denúncias e que foi alertada para eventuais represálias.
Boaventura de Sousa Santos diz que foi ele próprio que decidiu afastar-se do Centro de Estudos Sociais de Coimbra para garantir que a instituição fizesse as necessárias averiguações sem interferências.
O Centro de Estudos Sociais de Coimbra marcou para segunda-feira uma reunião com os representantes dos alunos. Também a associação académica de Coimbra criou um gabinete para receber denúncias.
“Havia a perceção geral de que o Boaventura era intocável”
Em 2014, Bella Gonçalves era orientanda do professor Boaventura Sousa Santos no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra.
“Vivi uma situação de assédio com o meu então orientador Boaventura Sousa Santos. Chamou-me para uma reunião no seu apartamento, tocou na minha perna e propôs aprofundar a relação”, conta à SIC.
A investigadora e deputada estadual em Minas Gerais, no Brasil, pelo partido de esquerda PSOL, revela que na altura chegou a denunciar a situação ao coordenador do curso e a vários professores, mas foi “silenciada”.
“Na altura procurei o coordenador do curso assim como vários professores, nenhum deles me incentivou a fazer a denúncia. Havia uma perceção geral de que o Boaventura era intocável. (...) Poderia significar a impossibilidade de terminar o meu doutoramento”.
Bella Gonçalves revela ainda uma frase que a marcou dita pelos vários professores com quem falou.
“Procurei vários professores e ouvi a seguinte frase: ‘Consigo também? O professor Boaventura é muito brilhante, mas infelizmente tem dessas coisas”, conta.
A investigadora afirma ainda não se culpar por não ter tido condições de fazer a denúncia na altura, mas assume “julgar o sistema que naquela época me silenciou”.