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Onda de calor deverá provocar mais mil mortes do que o esperado nesta altura do ano em Portugal

Na última semana foram registadas mais de 500 mortes do que seria de esperar.

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SIC Notícias

Na última semana, entre segunda-feira e domingo, morreram mais 523 pessoas do que seria de esperar, segundo dados provisórios do sistema de vigilância da mortalidade por todas a causas gerido pela Direção-Geral da Saúde (DGS) avançados pelo jornal Público.

Já na semana entre 7 a 13 de julho, a DGS tinha divulgado que foi registado um excesso de mortalidade de 238 óbitos acima do esperado.

O excesso de mortalidade é apontado à onda de calor e, para Pedro M. Sousa, meteorologista do Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA), ouvido pelo jornal Público, o balanço final do impacto das altas temperaturas não deverá ser inferior a 1.000 mortes acima do esperado para esta altura do ano.

Segundo as contas deste especialista, entre 1 a 16 de julho, foram registadas cerca de 5.600 mortes, quando o expectável seriam cerca de 4.000, o que dá um excesso de perto de 1.500. Pedro M. Sousa retirou as 287 mortes por covid-19 neste período, o que resultou num excesso de mortalidade na ordem dos 1.200 óbitos.

Apesar de admitir que não se pode atribuir toda a responsabilidade ao calor, acredita que grande parte deste excesso de mortalidade poderá estar relacionado com as altas temperaturas dos últimos dias.

A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, já tinha alertado que as temperaturas do ar extremas dos últimos dias podiam provocar desidratação ou descompensação de doenças crónicas. E, por isso, seria preciso ter especial cuidado com pessoas com doenças crónicas, crianças e idosos.

Esta foi a terceira onda de calor registada este ano, mas Portugal poderá vir a ter em meio século oito a dez em cada ano.

Atualmente o continente tem já o dobro das ondas de calor em relação ao século passado, explicou, em entrevista à agência Lusa, Pedro Matos Soares, investigador principal do Instituto Dom Luís, professor no Departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

"Se observarmos as projeções para as ondas de calor em Portugal "projetamos para os últimos 30 anos do século, de acordo com o cenário mais gravoso, termos cerca de 8 a 10 ondas de calor por ano".

Pedro Matos Soares explica que o que levou à onda de calor que Portugal continental atravessou é um fenómeno meteorológico natural e que pode nem estar relacionado com as alterações climáticas. Mas garante que elas aumentam exponencialmente a probabilidade de acontecerem vagas de calor.

No entanto, este não é um fenómeno exclusivo de Portugal. Em Espanha, por exemplo, autoridades de saúde estimam pelo menos 360 mortes nos primeiros seis dias da onda de calor que atinge o país desde dia 10, de acordo com dados do Instituto de Saúde Carlos III.

As mortes "observadas e calculadas" devido à onda de calor tiveram o seu pico na sexta-feira, 123 falecimentos, quando no dia anterior o número recolhido nesta estatística era de 93.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, as ondas de calor têm relação direta com o aumento do número de mortes. O fenómeno meteorológico está entre os mais perigosos desastres naturais. Entre 1998 e 2017, cerca de 165 mil pessoas morreram por causa de ondas de calor.

Ao contrário de outros fenómeno climáticos extremos, o calor passa a sensação de ser menos agressivo ou mais tolerável. É importante, no entanto, não esquecer que o corpo humano tem um limite para aguentar altas temperaturas, podendo sofrer consequências como stress, insuficiência cardíaca e lesão renal aguda por desidratação.

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