Quem sai do parque de estacionamento do Marshopping, em Matosinhos, depara-se com uma série de postos de carregamentos rodeados por uma fita de plástico. A cena é semelhante em Castelo Branco. Estações finalizadas e prontas a abrir, num espaço privado de acesso público.
Não querendo entrar em especificidades técnicas, mas não podendo simplificar demasiado a situação: os carregadores em espaços privados de acesso público precisam de uma certificação da DGEG, a Direção-Geral de Energia e Geologia.
Essa imposição já existia quando a Tesla instalou os primeiros carregadores em Portugal. E não são, neste momento, tão poucos quanto isto. Há 10 localizações no país, com 106 supercarregadores instalados. Desses, há 86 em 8 locais ligados e a funcionar, e qualquer proprietário de um Tesla pode usá-los.
A certificação em causa, no caso de Castelo Branco e Matosinhos, não é necessária para carregadores em espaços privados de acesso privado. Essas podem estar, por exemplo, num parque de estacionamento de um hotel, acessíveis a qualquer proprietário que peça o acesso. Nesses casos, há apenas uma verificação das condições de segurança – feita pela DGEG em qualquer contador instalado – e é dispensada a obediência ao regulamento da mobilidade elétrica em Portugal.
No caso dos espaços privados de acesso público, o carregador tem obrigatoriamente de ter um Operador de Posto de Carregamento (OPC), coisa que a Tesla não é (mas pode tornar-se). Outra alternativa é passar a CEME – Comercializador de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica (e, para isso, tem de ser OPC, segundo me explicou o presidente da Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos no último episódio do podcast Carta Elétrica. Por fim, a Tesla pode sempre fazer um acordo com um CEME que já exista.
Neste ponto, o que falta aos carregadores da Tesla é a possibilidade de carregamento de carros de todas as marcas. A diferenciação pode acontecer nos preços cobrados, por exemplo. Mas não é essa questão.
Os operadores de ponto de carregamento ou comercializadores têm de cumprir a legislação em vigor.
Estão em curso as negociações entre a Tesla, a tutela e a MOBI.E (que atua como Entidade Gestora da Rede de Mobilidade Elétrica, EGME) para que as estações que já estavam em funcionamento sejam regularizadas. Enquanto não forem, as novas não podem abrir. E isso parece-me legítimo.
Há mais de 6 mil Tesla a circular em Portugal e em 2021 foi a marca que mais veículos elétricos vendeu. É expectável que essa rede acompanhe esse crescimento no número de carros e a resolução do problema leva também a um alívio da pressão sobre a rede pública de carregamento.
A conclusão parece simples: se a Tesla quer funcionar em Portugal, há que cumprir as regras. Porque no fim, quem sai lesado é o cliente Tesla e, no limite, todos os utilizadores e potenciais utilizadores de veículos elétricos.