Há 20 anos, ainda não tinha terminado o curso de Jornalismo quando juntei o meu nome aos de muitos na equipa fundadora da primeira plataforma digital SIC. A internet vivia uma (in)certeza dourada na ressaca do boom no final da década de 90, com promessas de milhões. E os conceitos de Jornalismo Online ou Jornalismo Digital eram para muitos um Alien - não apenas algo estranho, mas tal qual o filme de terror e ficção científica (como o será agora o Jornalismo Aumentado por Inteligência Artificial).
Enveredei neste caminho pela oportunidade, irrecusável, e pelo desafio de aplicar os frescos ensinamentos da essência e da nobreza do Jornalismo a um meio que ainda não tinha manuais e referências. Havia alguns estudos, sim, tendências e muitas experiências. Muitas delas falhadas entretanto.
Os inúmeros flops – incluindo ideias geniais aplicadas antes do tempo certo – destas duas décadas dificilmente ficarão na História, tal a torrente de invenções, inovações, evoluções e revoluções, fruto da tecnologia que continua a galgar barreiras num ritmo exponencial. Entre tempestades e bonanças, vieram a Web 2.0, os blogues e o Jornalismo do Cidadão, a Google, depois a Apple, os smartphones e a era mobile, o YouTube e as redes sociais…
E de repente, não só o acesso à informação como a própria produção foram “democratizados” e o meu pai partilhava fotos da sua quinta no Facebook, com a mesma (ou maior!) facilidade com que eu publicava uma notícia de última hora! Ora das fotos hortícolas nada contra, o revés são as fáceis partilhas de informação falsa ou manipulada, que no barulho das redes facilmente se misturam e confundem na aparência com as verdadeiras notícias.
Nunca a captura da atenção foi tão competitiva. E nunca o Jornalismo enquanto disciplina da verificação foi tão necessário.
Qualquer pessoa, confiável ou não, pode hoje publicar e transmitir informação ao mundo. Mas só o jornalista tem a profissão e o papel que o obrigam a validar e verificar essa informação. Ou seja, pode e deve confiar no Jornalismo. Sempre. Da mesma forma que confia no seu médico.
Entretanto, face à concorrência feroz, escrever bem e excelentes reportagens já não é suficiente. “Não és pago para escrever, és pago para ser lido”. A frase é de um jornalista e professor de Jornalismo norte-americano, Jason Collington. Não me recordo de a ter ouvido nos tempos de faculdade, mas devia fazer parte do curriculum de qualquer curso de Jornalismo ou estar bem visível no alto de qualquer redação. Mais alto que os ecrãs das audiências em tempo real.
As audiências interessam.
Mais que contagens de visitas e páginas vistas, é essencial saber e compreender para quem está o jornalista a escrever. Quem é o seu público e o que ele quer, procura e necessita saber. Claro que o “faro jornalístico” e a intuição contam, mas a adaptabilidade é também um dos valores do Jornalismo e significa que a mensagem se deve adequar ao público-alvo e, por exemplo, o mesmo acontecimento será retratado de forma diferente numa publicação generalista e num jornal económico.
Em 2018, depois de anos a coordenar e editar o site da SIC Notícias, troquei a redação e a carteira de jornalista pela equipa de Produtos e Serviços Digitais da SIC e da Impresa. Com programadores de software, designers e, claro, em articulação com a redação e as áreas de negócio, trabalhamos juntos para que todas as notícias, sejam em texto, vídeo, áudio ou tudo misturado, cheguem ao ecrã que tem mais à mão, da melhor forma e quando delas precisa.
Aqui aprendi a olhar para a notícia como um produto.
Primeiro estranha-se. Como assim, pensar numa notícia, num site ou numa app de notícias como um sabonete? Depois entranha-se. Na medida em que um sabonete é criado para satisfazer as necessidades de quem o usa, de higienizar mas também de proteger uma pele mais sensível ou perfumá-la, também um site de notícias tem a obrigação de atender as necessidades de quem o procura e utiliza. Seja para se manter informado do que se está a passar agora no país e no mundo; para criar perspetivas sobre esses acontecimentos, através da opinião e análise de comentadores de referência; para estudar com mais detalhe e profundidade temas importantes como a Saúde Mental; para se inspirar com histórias de sobrevivência; ou ainda meramente para se distrair com um qualquer fait-divers.
É essa a estratégia dos gigantes tecnológicos ou de produtos digitais de referência como a Netflix ou a Uber. E é também isso que, em pleno mundo das plataformas digitais, a indústria dos media está ir buscar a Silicon Valley, sem vergonha mas com coragem, adotando uma nova cultura.
Ou seja, olhar para a notícias como um produto significa colocar o utilizador no centro da atenção.
Tão somente, mas tão importante. E dar-lhe a informação e os conteúdos que ele mais precisa, onde, quando e como ele quiser, parafraseando o título da série de entrevistas do João Pico, sobre transformação digital. Por isso lhe digo que “Isto é SIC”, porque é com a qualidade e os valores que conhece e espera desta marca que nos prefere e nós nos distinguimos dos outros. E “isto” também é seu, porque é feito especialmente para si.
Obrigado! E parabéns! 🎉