Opinião

Tornámos o mundo num lugar muito estranho

Sejamos claros, diretos e sem demagogias: os governos não são responsáveis pelos incêndios. Nem aqui nem na Grécia. Mas os governos são responsáveis pelo povo que governam. Pelo ordenamento do território. Pela floresta. Pelos meios de combate. Pelas decisões políticas. Ou falta delas.

Pedro Cruz

As catástrofes naturais - terramotos, maremotos e tsunamis - ainda que, poucas vezes, previsíveis, são inevitáveis. A natureza ganha quase sempre no combate contra o homem. Os incêndios, quando naturais, também. São de consequências imprevisíveis;


O que arrepia em Pedrógão e nos incêndios de Outubro, em Portugal, ou nos de ontem, na Grécia, não é a força da natureza. Dela podemos esperar tudo.

O que arrepia, o que choca, o que nos faz corar de vergonha é a falta de Estado.

O desordenamento florestal e urbano.

A falha nas comunicações. As decisões tardias e, por vezes, erradas. O abandono de populações à sua sorte. A prevenção mínima ou inexistente. O combate sem meios. O deixa-andar. As leis feitas à medida de lobbies e escritórios de advogados, aprovadas por deputados mal-preparados e laxistas.

Ou, simplesmente, ignorantes.

Impressiona a falta de assunção de responsabilidades.

O tão português, e mediterrâneo "logo se vê". O confiar na sorte, e apenas nela. O "deixa andar"; o "deixa ver, pode ser que não aconteça nada";

Repito.

Os governos não são responsáveis pelos fogos.

Mas são responsáveis pelas decisões. Ou não decisões.

O mundo já cá estava antes de nós chegarmos.

E conseguimos torná-lo num lugar muito estranho.

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