Opinião

Passos, Rio e o pim-pam-pum de Marcelo

No domingo das autárquicas, será muito difícil ao PSD cantar vitória, mas o líder já prepara o discurso para suavizar a derrota. Se repararem Passos Coelho fez um ligeiro acerto no objetivo. Se antes falava em liderar a Associação de Municípios, ou seja ter mais presidentes de câmara, agora as contas fazem-se à conquista de mais mandatos: presidências de câmara, vereadores, presidências de junta e lugares de deputados municipais e de freguesia. Baixar assim a fasquia em plena campanha não é um grande sinal para quem dizia, antes do verão, que não ia às eleições “para cumprir calendário”.

Bernardo Ferrão

A verdade é que faltam poucos dias para o virar de página do tal calendário. As facas estão afiadas. Miguel Relvas deu o mote: a ruralização do partido. O Expresso explicou o resto: no top das 15 grandes cidades, o PSD só manda em duas. Em 2013, o partido alcançou o resultado mais baixo: 86 câmaras, e mesmo que agora consiga recuperar fá-lo-á em autarquias pequenas que se resolvem com meia dúzia de votos. Se a isto juntarmos o previsível desastre em Lisboa e no Porto – por culpa da má gestão de Passos na escolha das candidaturas -, a noite marcará de facto o início de um novo ciclo.

Passos Coelho pode não sair já. Mas já há quem queira entrar. Rui Rio pôs o pé na porta. Depois de tantas falsas partidas tem agora de dar provas para não morrer de vez. No domingo à noite, os caciques também estarão de papel e caneta na mão: o candidato que garantir lugares, garante 2019. A escolha não é fácil: Passos fragilizado ou Rio insuflado? O Público garante que o ex-autarca tem tudo pronto. Já percorreu a cidade e as serras: 160 concelhos de lés-a-lés e tenta juntar os críticos para evitar uma terceira via. Na arena, um duelo a dois.

É um facto que Rui Rio não reúne consenso mas é o que há. Num PSD de rastos, qualquer perspetiva de regresso ao poder é como uma boia em mar revolto: não é certo que salve mas é mais um fôlego. Rio traz consigo uma nova agenda. Cheia de páginas em branco, é certo, mas com algumas ideias firmadas (que muitos consideram populistas) para o país. Antes do verão, dizia que Portugal tem de resolver três problemas: reduzir a despesa pública, fazer uma reforma estrutural no regime político e tornar o país menos “concentrado em Lisboa e no litoral".

Mas a agenda de Rio tem outras páginas que o próprio gosta de exibir. A difícil convivência com os media. O prazer de cultivar os “inimigos políticos corretos”. E o discurso de “cortar a direito”. Os seus detratores garantem que não aguentará o escrutínio, a voragem mediática de Lisboa, apontam-lhe a ausência de ataques ao PS de Costa e vão, aliás, tentar fragiliza-lo pela sua costela de “bloco central”: afinal ao que vem? Os seus apoiantes confiam num regresso à velha social-democracia, onde as questões sociais são de facto preponderantes. Chega para mudar o rumo? Terá Rio o aparelho que precisa? Um resultado “poucochinho” de Passos não implica um virar de página. O PSD pode preferir suportar um líder fraco até 2019, do que eleger um que assusta: por ser solitário, por estar zangado, por temerem uma “purga”.

Atento às movimentações, Marcelo Rebelo de Sousa não morre de amores pelo homem que se anuncia. Viraram costas nos tempos em que Marcelo era líder e Rio secretário-geral. Se com Passos, Marcelo, o apelidado “cata-vento”, teve uma relação difícil com o PSD, com Rui Rio, o Presidente ficará outra vez do lado de fora da São Caetano: à distância e sem controlo. Há no entanto uma pergunta que pode ser ponderada pelo superpoder de Belém: entre Passos e Rio, qual dos dois pode fazer mais mossa na caminhada de Costa para uma maioria absoluta? Enquanto não chega a vez de Luis Montenegro, será que o Presidente vai ter de torcer por quem não quer?

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