"Quatro características deve ter um juiz: ouvir cortezmente, responder sabiamente, ponderar prudentemente e decidir imparcialmente".
Quem disse? Sócrates, pois claro. Mas o Filósofo.
Na entrevista - exclusiva, recorde-se, já agora - à SIC, Carlos Alexandre usou da liberdade a que tem direto - antes de ser juiz é cidadão, e não o contrário - e não foi "politicamente correto" ao dizer que não tem nem nunca teve "contas em nome de amigos". Se calhar, quebrou um dos conselhos do sábio Sócrates (o filósofo) e não "ponderou prudentemente". Nem sequer se trata de "responder sabiamente", porque a pergunta não lhe foi feita. Disse, simplesmente, o que queria dizer.
Liberdade.
Durante todos estes meses, Sócrates, o cidadão, o político e o antigo estudante de filosofia tem gozado exatamente do mesmo princípio a que tem direito - a liberdade. A que tem tido, para, direta ou indiretamente, acusar juiz e procurador de o perseguirem, de o atacarem, de o maltratarem, de não terem provas, nem rumo na investigação, nem acusação formada.
Liberdade.
Carlos Alexandre tem direito a dizer o que disse, na exata medida em que Sócrates, o político, tem direito a dizer tudo o que já disse.
No fundo, trata-se de um jogo entre julgador e julgado, juiz e arguido.
Dois homens poderosos.
Voltemos a Sócrates, o filósofo: "Quem comete uma injustiça é sempre mais infeliz que o injustiçado".
Ambos o devem saber. De certeza.
E como ambos são homens livres na palavra, volto a recorrer ao mestre do pensamento, Sócrates, o filósofo: "Quem melhor conhece a verdade é mais capaz de mentir".
Não me parece que haja "liberdade" de primeira e de segunda. Ou de primeira para uns e de segunda para outros.
Senão, e aí a Dona Fernanda, a minha professora primária pouco dada a meiguices, lá teria a sua razão - passa a ser libertinagem.
Mas eu, por mim, "só sei que nada sei".