Num avanço que pode revolucionar a tecnologia e a biologia, a Cortical Labs, uma startup de Melbourne, apresentou o CL1, o primeiro computador biológico comercial do mundo. Este dispositivo combina neurónios derivados de células estaminais humanas com chips de silício, criando uma nova forma de inteligência artificial chamada "Inteligência Biológica Sintética" (SBI). Esta tecnologia aprende e adapta-se mais rapidamente do que a IA tradicional além de consumir menos energia.
"A Cortical Labs desenvolveu o primeiro computador biológico do mundo. Ao contrário das redes neuronais artificiais, nós criamos neurónios biológicos reais em redes, em chips de computador. Fazemos isso transformando sangue ou pele em células estaminais e, a partir delas, em neurónios que usamos para computação e inteligência", explicou Hon Weng Chong, da Cortical Labs.
Os neurónios crescem num chip de silício com minúsculos contactos elétricos que os ligam ao hardware digital.
"Revolucionar a ciênciabiológica"
A empresa afirma que o computador biológico CL1 pode revolucionar a investigação em ciências biológicas, a descoberta e os testes de medicamentos, a deteção precoce de doenças e acelerar o desenvolvimento da medicina personalizada.
"A curto prazo, podemos usar esta tecnologia para as ciências da vida, medicina personalizada e desenvolvimento de medicamentos. A visão a longo prazo é criar uma nova forma de computação, onde neurónios processam informação mais rapidamente, com menos dados e maior eficiência energética, alcançando inteligência sem os custos elevados associados", disse Chong.
"A chave está na medicina personalizada. Durante muito tempo, tratámos populações. Mas o objetivo é tratar o indivíduo. Com esta tecnologia, podemos desenvolver neurónios de pacientes com demência ou epilepsia e testar medicamentos personalizados para cada doente. Isso é fenomenal".
Manter vivo o computador biológico
O CL1 possui um sistema de suporte de vida artificial para manter as células saudáveis, como bombas, reservatórios de alimentação, filtros e um sistema de gestão de oxigénio e CO2.
"Os neurónios são incorporados aqui. Temos 64 canais para interagir eletronicamente com eles. Uma unidade de computação lê a atividade elétrica e executa cálculos. Temos bombas como o coração, reservatórios de resíduos e alimentação, filtros como os rins, e um misturador de gases para absorver dióxido de carbono, oxigénio e azoto", detalhou Chong.
As unidades do computador biológico CL1 serão fabricadas por encomenda e estarão prontas para expedição ainda este ano, destinadas a laboratórios e centros de investigação que cultivam suas próprias células. A Cortical Labs também planeia oferecer o serviço Wetware-as-a-Service (WaaS), permitindo que os clientes interajam remotamente com as células cultivadas através da cloud para desenvolver aplicações.
Em 2022, a Cortical Labs demonstrou a capacidade desta tecnologia com 800.000 neurónios cultivados em laboratório, que aprenderam a jogar o jogo de computador Pong. A experiência foi relatada numa edição de 2022 da revista Neuron.