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"É como se a alma voltasse para o peito": abraço emotivo de gémeos palestinianos em Gaza corre mundo

Após 15 meses de separação, num cenário de morte e destruição, dois irmãos gémeos cruzaram-se em Gaza, no meio da multidão. Esse reencontro inesperado foi selado com um longo abraço e muitas lágrimas.

Elisa Macedo

Ana Isabel Pinto

O reencontro emocionante dos irmãos gémeos Ibrahim e Mahmoud al-Atout depois de Israel ter permitido a circulação dentro da Faixa de Gaza, foi um momento marcante do regresso dos palestinianos que ficou registado em vídeo. As imagens do longo abraço, no meio da multidão, tornaram-se virais e expressam sem palavras a emoção do reencontro.

Depois de 15 meses de separação, Ibrahim e Mahmoud al-Atout cruzaram-se de forma inesperada no meio da multidão.

"Ele chamou-me, 'Mahmoud', e eu nem queria acreditar, corri rapidamente e abraçámo-nos. Onde é que estavas, Ibrahim? Onde, meu irmão? Abraçámo-nos com muita força, nem queria largá-lo. É como se a alma voltasse para o peito, a alma voltasse para o coração, eu não conseguia acreditar que encontrei o meu irmão, não conseguia acreditar", conta Mahmoud al-Atout à agência Reuters.

O vídeo do longo abraço dos gémeos em meio da multidão de pessoas que regressavam dos campos de deslocados, há cerca de uma semana, foi amplamente visto em todo o mundo.

Ibrahim e Mahmoud al-Atout sofreram perdas irreparáveis e nem a alegria do reencontro consegue sarar a dor.

"A 19 de novembro de 2023, a nossa casa foi atingida e uma das minhas filhas foi martirizada e outra filha ficou ferida. Fomos ao hospital indonésio para tratamento e o exército (israelita) prendeu-nos nos próprio hospital. A minha filha que estava ferida precisava de platina (implantes de metal) nas pernas, mas não havia platina lá, nem raio-x. A cabeça da minha filha estava aberta assim, a pele da cabeça tinha sido arrancada e eles nem tinham linha (para pontos). O exército (israelita) prendeu-nos, depois a Cruz Vermelha levou-nos de autocarro para o Hospital Nasser em Khan Younis," recorda Ibrahim.

Os dois homens, da área de Jabalia, no Norte de Gaza, separaram-se no início do conflito que começou quando militantes do Hamas atacaram Israel, a 7 de outubro de 2023. A campanha militar israelita em Gaza matou mais de 47.000 pessoas, segundo as autoridades de saúde palestinianas, e arrasou grande parte do enclave.

No início, Israel ordenou aos civis que abandonassem o Norte, onde as operações militares eram mais intensas, mas nem todos o fizeram. Aqueles que viajaram para Sul foram proibidos de retornar até à semana passada, como parte do acordo para um cessar-fogo e libertação de reféns.

Ibrahim acabou no Sul, enquanto Mahmoud ficou no Norte. Agora reunidos, os dois homens de 30 anos e as suas famílias passam o tempo a vasculhar as ruínas da casa da família, à procura de tudo o que ainda possam recuperar.

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