O caso remonta a 29 de Julho de 2024 quando Axel Rudakubana, um jovem de 17 anos, esfaqueou três crianças, incluindo uma lusodescente, numa aula de dança em Southport, no noroeste da Inglaterra.
Sabe-se agora que já depois de ter sido condenado por vários crimes violentos - e sendo ainda menor - o jovem conseguiu comprar, através da Amazon - uma faca dias antes do ataque. Segundo o The Guardian, Rudakubana utilizou um software de segurança de forma a esconder a identidade.
"Apesar do facto dele ter sido condenado por violência e ter apenas 17, ele conseguiu facilmente encomendar uma faca da Amazon. É uma vergonha total e tem de mudar", disse Yvette Cooper, ministra do Interior, cita a BBC.
Mas a lista de compras nesta aplicação não fica por aqui, uma vez que dois anos antes já teria recorrido a este site para comprar equipamento para fabricar ricina, um veneno letal.
O The Guardian revela, ainda, que seis minutos antes de sair de casa no dia do ataque, procurou na internet um vídeo do esfaqueamento numa igreja em Sydney onde um bispo terá sido atacado enquanto transmitia um sermão em direto.
Jovem declarou-se culpado das acusações
Esta segunda-feira, no Tribunal Penal de Liverpool - e depois de ter negado várias vezes as acusações - o jovem considerou-se culpado das 10 acusações de tentativa de homicídio.
Admitiu também a posse de rícino e de um manual de treino da organização terrorista Al-Qaeda. A leitura da sentença está prevista para quinta-feira.
Jovem já tinha sido referenciado três vezes pelo Prevent
Nesse mesmo dia, o The Guardian avançou que o jovem já tinha sido referenciado três vezes para o Prevent, em 2019 e 2021. Uma informação que foi depois confirmada pelo Governo.
Um dos encaminhamentos, de acordo com o jornal, terá surgido na sequência de preocupações sobre um potencial interesse de Axel em matar crianças num massacre escolar.
O comportamento do jovem foi classificado como potencialmente perigoso, no entanto, foi entendido que não era motivado nem representava perigo terrorista, pelo que não foi considerado adequado para o programa.
"Em cada uma dessas ocasiões, foi decidido que ele não atingia o limiar de intervenção, uma avaliação de julgamento que estava claramente errada", admitiu Keir Starmer, primeiro-ministro britânico.
O Prevent é um programa nacional, destinado a pessoas que possam ser potencialmente adeptas de ideologias terroristas e com o objetivo de as afastar da prática de atos de violência.
Starmer alerta para “nova ameaça” terrorista
Esta terça-feira, numa conferência de imprensa, transmitida pela televisão e redes sociais Keir Starmer, reconheceu a existência de uma "nova ameaça" terrorista ao defender à abertura de um inquérito.
"Precisamos de um inquérito, porque estamos a lidar com um novo tipo, uma ameaça diferente de violência extrema individualizada, e temos de ter as leis e o enquadramento necessários para lidar com ela", afirmou.
O chefe do Governo britânico assumiu ser legítimo que este ataque seja considerado terrorista, algo que a polícia evitou classificar por não ser conhecida a intenção do autor do ataque.
"A verdade é que este caso é um sinal de que o Reino Unido enfrenta atualmente uma nova ameaça. O terrorismo mudou", afirmou Starmer, num discurso esta manhã em Londres, na residência oficial, em Downing Street.
Para além de grupos organizados, disse, existe agora a ameaça de "atos de violência extrema perpetrados por [pessoas] solitárias, marginais, jovens que, no seu quarto, acedem a todo o tipo de material na Internet, desesperados por notoriedade, por vezes inspirados por grupos terroristas tradicionais, mas fixados nessa violência extrema, aparentemente por si só", descreveu.
Starmer afirmou que as autoridades devem estar preparadas para identificar estas pessoas, e que, por isso, "se a lei tiver de ser alterada para reconhecer esta nova e perigosa ameaça, então mudá-la-emos e rapidamente, e também reveremos todo o nosso sistema de combate ao extremismo". Uma questão a abordar deve ser a existência de conteúdos violentos ou perigosos disponíveis de forma gratuita na Internet, criticou.
Com Lusa