A Rússia admitiu esta terça-feira que iniciou a revisão das suas doutrinas militar e nuclear devido à deterioração da situação internacional, em grande medida motivada pela reação do ocidente à guerra na Ucrânia.
"A situação internacional demonstra uma tendência para uma crescente deterioração. É indiscutível e conhecido de todos que a dissuasão nuclear possui uma função crucial no nosso sistema de segurança", afirmou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros Serguei Riabkov, citado pela agência noticiosa Interfax.
Riabkov sublinhou que a experiência acumulada durante a campanha militar na Ucrânia e a análise do modelo de comportamento do ocidente demonstram "ser necessário precisar alguns parâmetros que são aplicáveis em situações descritas quer na doutrina militar quer nos fundamentos da política estatal no campo da dissuasão nuclear". "O trabalho está em curso e ainda não terminou", sublinhou.
O diplomata negou-se a precisar os prazos concretos para a introdução destas modificações, apesar de sublinhar que "todos devem entender que enfrentamos esta questão com a maior das responsabilidades". Na semana passada, no âmbito do Fórum Económico de São Petersburgo, o Presidente russo Vladimir Putin não excluiu alterações nas doutrinas militar e nuclear.
"A doutrina é um instrumento vivo e nós seguimos atentamente o que acontece no mundo, em nosso redor. E não excluímos introduzir alterações nessa doutrina", disse.
Putin respondeu desta forma a uma questão sobre a autorização ocidental à Ucrânia para que utilize o armamento fornecido pelos países da NATO contra objetivos em território russo. Recordou ainda que na recente entrevista com responsáveis das principais agências noticiosas internacionais já tinha sublinhado que a doutrina militar prevê a utilização de armas nucleares apenas "em casos extraordinários", numa situação em que esteja ameaçada a própria existência do Estado russo.
"Não considero que nos encontremos nessa situação. Não existe tal necessidade", afirmou.
O Presidente russo também recordou que possui no seu arsenal um número de armas nucleares táticas muito superior ao resto da Europa no seu conjunto, e que são "três a quatro vezes mais potentes" que as lançadas pelos Estados Unidos em 1945 sobre as cidades japonesas de Hiroxima e Nagasaki.