As redes sociais são um predador implacável que se alimenta de atenção. A presa deste tubarão faminto não é de carne e osso. Alimenta-se de tempo e utiliza como engodo um “scroll” infinito de conteúdos dispersos e avulsos, sem nexo, propósito ou finalidade, numa sequência de estímulos hipnotizantes, todavia repetidos, orquestrada pelo todo-poderoso “algoritmo”.
Não deve existir um utilizador assíduo de redes sociais que não tenha sentido este efeito. A sensação de que passou mais tempo do que pretendia a percorrer conteúdos cíclicos que fluem encadeados.
As redes sociais são uma espécie de “droga”, impercetível para os nossos cérebros paleolíticos, que explora as vulnerabilidades dos processos mentais naturais. A natureza aparentemente inofensiva e social das plataformas esconde o seu impacto no equilíbrio mental e emocional.
Um dos seus efeitos, para o qual muitos psicólogos alertam, é conhecido como “dopamina dos likes”. Consiste numa libertação de dopamina no cérebro resultante das reações de terceiros a publicações dos próprios, induzida pela sensação de aceitação e pertença, semelhante à “recompensa” resultante de alguns alimentos ou sexo, que provocam um prazer capaz de desencadear comportamentos viciantes.
As redes sociais têm benefícios. O principal será o acesso a informação e conhecimento. Não existem barreiras à capacidade de criar e aceder a conteúdos lúdicos e didáticos, acerca de tantos assuntos quantos aqueles que nos interessem, da tecnologia à nutrição, fitness, empreendedorismo, história, humor, viagens, filosofia, animais de estimação ou dicas de limpeza. Por vezes, até surgem conteúdos que alertam para os perigos das redes sociais, conteúdos esses que, paradoxalmente, sem as quais não veríamos.
As redes sociais têm uma capacidade inigualável de inspirar, educar e de construir comunidades atraídas por interesses comuns. Permitem alertar para causas e promover debates importantes de forma gratuita, rápida e eficaz. Este será, no entanto, um dos seus maiores perigos, ou seja, a disseminação de informação falsa, direcionada para públicos predispostos a determinadas opiniões políticas e sociais que se envolvem ativamente na sua propagação, mesmo que involuntária.
As estratégias de manipulação da informação são muitas vezes protagonizadas por personalidades públicas. O contraditório e a reposição da verdade não têm um alcance útil capaz de reparar o dano da mentira. Se os adultos, com experiência e maturidade, não são capazes de se defender desses efeitos extremados e sensacionalistas, de filtrar o lixo, o ódio, de detetar a falsidade, como poderão fazê-lo os mais jovens, e até as crianças, quando expostas a estes conteúdos?
As redes sociais estão suportadas em tecnologia de “machine learning”, que é uma das funcionalidades da Inteligência Artificial que consiste em avaliar e organizar comportamentos e prever ações futuras. Isto é, o algoritmo promove os conteúdos que despertam mais interesse e reação.
A natureza humana encarrega-se de premiar a controvérsia, o escândalo e a polémica com cliques e partilhas. Os algoritmos de recomendação de conteúdos são na prática a capacitação dos sistemas de Inteligência Artificial (IA) acerca dos estímulos, manipulação e reatividade dos seres humanos.
Foram definidas pelos pesquisadores de IA três fronteiras para evitar que a IA superasse a inteligência biológica. A primeira seria não permitir que a IA aprendesse código, o que possibilita o seu autoaperfeiçoamento. A segunda seria não conectar a IA à Internet, que permite aprendizagem em tempo real. A terceira seria não permitir que os sistemas de IA compreendessem a psicologia humana. Estas três fronteiras foram ultrapassadas. No caso da psicologia humana resultou da utilização de redes sociais.
Outro dos benefícios das redes sociais é o seu contributo para os negócios. Dos micro empreendedores às grandes corporações, as redes sociais, com base em dados demográficos, interesses e comportamentos dos seus utilizadores e com funcionalidades de e-commerce incorporadas, são uma ferramenta importante pela sua capacidade de atingir públicos diversificados com relativa facilidade e baixo custo. São também plataformas onde as empresas podem interagir com os seus clientes e cultivar comunidades.
Uma vez mais esta relação tem um reverso. No caso das empresas, existe o risco do erro, que se propaga rapidamente, a dificuldade de sobressair do ruído de conteúdos concorrentes ou a subavaliação dos recursos e capacidades tecnológicas necessárias para assegurar uma presença eficaz nas redes sociais. Para os consumidores, os riscos estão relacionados com a privacidade e segurança dos seus dados, a saturação publicitária, a desinformação e publicidade enganosa e a propagação de expectativas irreais.
Não há dúvida que as redes sociais têm riscos e benefícios. Devemos, no entanto, entender que não são um mero “barómetro” social. Atuam como uma força ativa na criação e propagação de tendências, na intermediação de interesses e na formação de opiniões. Devem ser utilizadas com uma consciência crítica e os mais jovens devem ser alertados para os seus riscos e educados para uma interação digital mais saudável e equilibrada.