A análise de Germano Almeida, comentador SIC, a 270 dias da eleição presidencial norte-americana de 2024, em cinco ideias:
IDEIA 1 – BIDEN RECUPERA E A ELEIÇÃO ESTÁ EMPATADA
Depois de várias semanas com Donald Trump alguns pontos à frente (nas sondagens nacionais e sobretudo nos estados decisivos), Joe Biden conseguiu recuperar nos últimos 10 dias e está tecnicamente empatado com o mais que provável nomeado republicano.
Nas últimas seis sondagens nacionais, Biden aparece à frente em duas, Trump em duas, empate noutras duas; mesmo nos estados decisivos, Trump reduziu a vantagem. Por exemplo, no Wisconsin, um dos estados do Midwest onde Trump bateu Hillary em 2016 e Biden ganhou a Donald em 2020, Trump estava cinco pontos à frente há dois meses: agora estão empatados (47-47).
IDEIA 2 – AFINAL, BIDEN (AINDA) MOBILIZA
Os primeiros testes do lado democrata confirmam que Biden não tem concorrência real nos democratas, mas isso não está a comprometer a mobilização em torno da sua nomeação: tanto nas percentagens como no número de votos, Joe tem desempenhado acima do que se esperava.
No New Hampshire, mesmo sem estar nos boletins, 65% escreveram o nome dele à parte (nada mau para quem tem fama de ser pouco entusiasmante...).
No Nevada, 89%; na Carolina do Sul, 97%.
Os bons desempenhos de Biden reduzem espaço a ideias de alguns setores democratas de ainda travarem a recandidatura do Presidente, pelos 81 anos de Joe.
Há quem suspire por Michelle Obama mas isso não é, simplesmente, realista: ela nada fez por isso até agora e para ser candidato presidencial na América tem que se querer muito.
IDEIA 3 – NIKKI DÁ TUDO NA "SUA" CAROLINA DO SUL
Trump aparece com mais de 30 pontos de vantagem para as primárias republicanas na Carolina do Sul. Ora, isso pode ser comprometedor para Nikki Haley, que até governou esse estado durante seis anos.
Nikki precisa de reduzir essa diferença até dia 24, caso contrário será difícil que a sua campanha sobreviva a tamanha derrota. Haley está a tentar convencer os republicanos que tem mais condições do que Trump de bater na eleição geral. E isso até é verdade: Trump e Biden estão empatados; Haley aparece… 15 (!) pontos à frente de Biden no estado decisivo do Wisconsin.
O problema é que, nas primárias do Nevada, sem Trump nos boletins, Haley só obteve 31%, contra 63% de... "nenhum destes candidatos" (leia-se Trump). E até Mike Pence, que já desistiu há meses, mereceu 4% dos votos.
IDEIA 4 – CUIDADO COM O PESO DA JUSTIÇA, DONALD
O que pode comprometer Trump? Provavelmente, a Justiça.
Trump não conseguiu a imunidade presidencial que desejava e será mesmo julgado, já a 4 de março, pela tentativa de inversão da eleição de 2020.
A juíza Tanya Chutkan terá, nesse dia, que emitir uma decisão que pode determinar muito do que pode acontecer ao ex-Presidente-e-mais-que-provável-futuro-nomeado-presidencial-republicano.
Claro que isso terá peso para a eleição geral. Até uma boa parte dos republicanos concorda com isso. E ainda falta saber o que se passará com os documentos classificados em Mar-a-Lago e com o processo da Geórgia, para lá dos processos cíveis, de natureza económica e fiscal.
É prematuro achar-se que Trump passará eleitoralmente incólume disso tudo.
IDEIA 5 – PARALISAÇÃO EM WASHINGTON DC (ÀS ORDENS DE DONALD)
O "speaker" Mike Johnson tem dado mostras de que está completamente controlado pelos interesses eleitorais de Trump. Vai travar – já está a fazê-lo -- toda e qualquer iniciativa Biden até à eleição (sobretudo a ajuda à Ucrânia).
Não interessa que o Presidente democrata até tenha mostrado abertura para o compromisso.
Os republicanos trumpistas preferem não conseguir ganhos no tema da imigração, para que possam chegar a novembro e atirar as culpas a Joe Biden.
As consequências estão a ser trágicas: os EUA a abdicarem de liderança global pela cegueira dos republicanos trumpistas. E, com isso, a darem uma via verde a Putin para consumar a ocupação de parte da Ucrânia. Como é possível?
PRÓXIMA VOTAÇÃO: Carolina do Sul (republicanos, 24 de fevereiro)