Ao atacar nas últimas semanas alvos no Paquistão, no Iraque e na Síria, o Irão demonstrou mais uma vez a eficácia do seu programa balístico, iniciado há quase 40 anos e que tem sido continuado apesar das sanções internacionais. A combinação dos seus mais recentes mísseis e da sua frota de drones, que a Rússia tem adquirido aos milhares para lançar contra a Ucrânia, tem levado o Irão a tornar-se o produtor de algumas das armas mais sofisticadas do Médio Oriente.
A 18 de janeiro, o Irão disparou contra o que chamou quartéis-generais “espiões” e "alvos terroristas” na Síria e no Iraque. Teerão também atacou “alvos terroristas” no Paquistão, causando a morte de duas pessoas, segundo Islamabad, que retaliou matando nove pessoas, afirma o Irão.
Visão geral das capacidades militares deste país considerado pelo Ocidente um destabilizador regional e o agente por detrás do alastrar dos conflitos no Médio Oriente.
Mísseis do Irão com maior alcance e melhor precisão
A produção de mísseis do Irão aumentou nos últimos 15 anos e melhorou significativamente a precisão, a orientação e a tecnologia aerodinâmica das armas.
No geral, o Irão tem “mais de 3.000 mísseis balísticos” e está constantemente a aumentar o seu arsenal de mísseis de cruzeiro, de acordo com estimativas militares e de inteligência dos EUA.
O programa de mísseis balísticos do Irão evoluiu de um arsenal de mísseis Scud, que adquiriu à Líbia, à Síria e à Coreia do Norte durante a década de 1980, para armas de precisão guiadas por satélite e navegação GPS.
“Os iranianos levaram a tecnologia Scud de um alcance de 300 km dos mísseis da década de 1980, para 1.600 km e mais”, e têm também “sistemas de orientação muito melhores que permitem correções de trajetória”, explicou à AFP Jeremy Binnie, da empresa privada Janes.
Gradualmente, foram desenvolvidos mísseis de combustível sólido, “mais fáceis de armazenar e muito mais rápidos de pôr em ação (…) portanto, mais úteis taticamente”, refere
O Irão tem um vasto arsenal de mísseis de diferentes alcances – curto (300 km), médio (300-1.000) e longo (até 2.000), a maioria é produzida ou montada localmente graças a um setor industrial e académico de alto nível.
Um dos mísseis mais avançados e de maior alcance é o Kheibar Shekan. Lançado em 2022, o Kheibar Shekan é um míssil de combustível sólido guiado com precisão que tem um alcance de 1.450 quilómetros – o que significa que pode atingir Israel. Mas o que o distingue do resto do arsenal do Irão é que a sua ogiva pode manobrar agilmente com pequenas barbatanas aerodinâmicas para escapar de alguns sistemas tradicionais de defesa aérea.
A guerra Irão-Iraque (1980-1988)
A guerra que opôs os dois países foi um ponto de viragem para Teerão, altura em que adquiriu mísseis russos Scud-B para responder aos ataques de Saddam Hussein.
“Esta experiência deixou uma impressão duradoura nas autoridades iranianas, que concluíram que os mísseis eram um meio eficaz de resposta e um elemento vital da sua defesa”, resume John Krzyzaniak, do projeto Wisconsin sobre controlo de armas nucleares.
Estes investimentos foram importantes para compensar as fragilidades da frota aérea. O Irão “não conseguiu renovar os seus caças nas últimas décadas e compensou construindo mísseis”, acrescenta o especialista.
Ajudas externas e fornecimentos à Rússia
"Os primeiros mísseis balísticos do Irão foram fornecidos pela Líbia, Síria e Coreia do Norte”, disse à AFP Farzan Sabet, do Instituto de Pós-Graduação de Genebra.
Antes de adquirir uma verdadeira autonomia, Teerão também recebeu ajudas da União Soviética e depois da Rússia.
Hoje em dia, “a contribuição externa (...) não é muito clara, mas deverá ser mais a nível de componentes do que design e desenvolvimento completos”, estima Jeremy Binnie.
Ao mesmo tempo, os seus mísseis “provavelmente utilizam componentes disponíveis no mercado, já que os iranianos sabem como integrar produtos comerciais” nas suas armas.
E isto, apesar das sanções internacionais, nomeadamente dos EUA, que terão tido o mérito de abrandar o programa e aumentar o seu custo, mas não de aniquilá-lo, confirmam os analistas.
Os países ocidentais acusam o Irão de estar a fornecer drones à Rússia para a guerra contra a Ucrânia.
Números desconhecidos
Como é frequente neste domínio, os stocks iranianos são desconhecidos, mas os especialistas consideram que são imensos, quer estejam nas mãos do exército, do Corpo da Guarda Revolucionária, que tem fábricas e armazéns próprios", ou dos vários aliados do Irão na região, desde o Hezbollah libanês até aos rebeldes Houthi do Iémen.