O ex-Presidente norte-americano Donald Trump venceu as primárias de New Hampshire, fortalecendo o domínio à indicação republicana e a probabilidade de voltar a enfrentar o atual chefe de Estado, Joe Biden, nas presidenciais de novembro.
O resultado, avançado pela imprensa norte-americana na terça-feira, contraria as expectativas da ex-embaixadora junto da ONU, Nikki Haley, que investiu tempo e recursos financeiros significativos para tentar conquistar o Estado.
Com 72% dos votos contabilizados, Haley garantia 43,6% contra 54,4% de Trump.
"Que grande vitória", afirmou o magnata, na terça-feira à noite, aos apoiantes, depois da imprensa norte-americana, com 55% dos votos apurados, o ter declarado o vencedor da noite (53,8% dos votos), com quase 10 pontos percentuais de vantagem sobre Haley (44,7%).Trump aproveitou a multidão de apoiantes para criticar Nikki Haley, avaliando que a antiga governadora "teve uma noite muito má".
"Saiu-se muito mal, na verdade. Disse que ia vencer, que ia vencer, mas falhou e muito", disse.
Trump destacou ainda o desempenho de Haley no 'caucus' do Iowa da semana passada, onde a candidata ficou em terceiro lugar, atrás do ex-Presidente e do governador da Florida, Ron DeSantis, que acabou por abandonar a corrida no domingo.
Haley intensifica críticas a Trump
A antiga governadora da Carolina do Sul posicionou-se como a principal alternativa a Trump, após o governador da Florida, Ron DeSantis, ter desistido da corrida eleitoral no domingo passado. Haley já reconheceu a derrota e felicitou Trump, mas pareceu confortada pelos números não tão distantes de Trump.
Aproveitou então para intensificar as críticas ao ex-Presidente, questionando a acuidade mental, ao mesmo tempo que se apresentou como uma candidata unificadora que daria início a uma mudança geracional no Partido Republicano.
O ex-Presidente, já vencedor do 'caucus' do Iowa na semana passada, deu assim na terça-feira mais um passo rumo à nomeação do partido para as eleições presidenciais de novembro. Ao registar vitórias em ambos os primeiros Estados a ir a votos, Trump demonstrou capacidade para unir firmemente à sua volta as diferentes alas do Partido Republicano.
O magnata conseguiu conquistar ainda o apoio dos influentes conservadores evangélicos no Iowa e dos eleitores mais moderados de New Hampshire, resultados que espera replicar à medida que as primárias se expandem rapidamente para o resto do país.
Já Haley não conseguiu capitalizar a tradição política mais moderada de New Hampshire. Agora, caminha para se tornar a representante do Partido Republicano nas presidenciais está a estreitar-se rapidamente.
As primárias de New Hampshire serão responsáveis pela distribuição de apenas 22 dos 2.429 delegados que vão participar na Convenção Nacional Republicana, evento de onde, neste verão, sairá o candidato à Casa Branca.
Neste momento, Trump tem 11 delegados, em comparação com os seis de Haley, enquanto se aguarda a atribuição de cinco à medida que o escrutínio avança.
Dezenas de apoiantes, doadores e legisladores republicanos compareceram na sede da campanha de Donald Trump nesta noite eleitoral, incluindo a polémica congressista Marjorie Taylor Greene e a ex-candidata ao governo do Arizona Kari Lake.
Candidata“excedeu as expetativas”
Uma analista luso-americana considerou que Nikki Haley, única candidata que se mantém entre Donald Trump e a nomeação presidencial republicana, "excedeu as expectativas" em New Hampshire e mostrou energia combativa no discurso de derrota.
"Os resultados eram esperados na perspetiva de que Trump ganhou, mas é óbvio que Nikki Haley excedeu as expectativas, pelo menos naquilo que as sondagens previam", explicou à Lusa Daniela Melo, cientista política e professora na Universidade de Boston.
"Não foi uma noite terrível para Nikki Haley, aliás pelo contrário", frisou, sobre o 'caucus' em New Hampshire (nordeste dos EUA), na terça-feira à noite.
Haley mostrou um discurso "muito combativo, mas positivo ao mesmo tempo, com uma mensagem muito positiva para os eleitores, o eleitorado moderado do partido republicano e para os independentes moderados", acrescentou.
É desta coligação que a antiga embaixadora dos Estados Unidos junto da ONU precisa para ter uma hipótese de desafiar Trump na corrida à nomeação.
"Nikki Haley vai ficar na corrida porque vê progressos. Sabe que é difícil, poderá ser quase inatingível, mas está disposta a ir à luta", salientou Daniela Melo.
A politóloga destacou alguns pontos essenciais do discurso de derrota de Haley que mostram qual o caminho que a campanha vai seguir em direção às primárias na Carolina do Sul, a 24 de fevereiro, e à "Super Tuesday", a 5 de março.
"Um argumento forte é de que, apesar de Donald Trump ter uma grande base de apoio dentro do partido, isso não é suficiente para ganhar a nível nacional", referiu a analista.
Elegibilidade de Trump posta em causa
Haley pôs em causa a elegibilidade do ex-Presidente norte-americano, enumerando as várias derrotas do Partido Republicano desde que Trump entrou na Casa Branca.
"Também atacou muito diretamente a acuidade mental dele", continuou Melo.
"Foi uma Nikki Haley muito assertiva, muito combativa e com muita vontade de dar luta a Donald Trump", sublinhou.
As sondagens para a Carolina do Sul preveem que a candidata volte a perder para Donald Trump, embora estes resultados em New Hampshire e a retirada de Ron DeSantis possam mover as setas nas próximas semanas.
"Se Donald Trump ganhar por 15%, 20%, ou acima disso, ela vai ter poucos argumentos não só com o eleitorado mas também com os doadores, que estão a financiar esta luta", referiu Daniela Melo.
Democratas não querem ascensão de Haley
Na visão da analista, uma ascensão de Haley é algo que o Partido Democrata não quer, posição expressa pela própria candidata.
"Será um desafio gigantesco para a campanha de Biden se Trump não for o nomeado. Porque Nikki Haley pode voltar a unir o eleitorado republicano", considerou.
Daniela Melo ressalvou que o caminho "é estreito" e a candidata tem poucas hipóteses, mas é a "última mulher de pé" contra Trump e ainda não pode ser descartada.
"O argumento mais forte que ela fez foi relembrar ao eleitorado que começou como uma de 14 candidatos à liderança do partido, com 2% nas sondagens, e que neste momento é só ela contra Trump", disse.
Sendo a Carolina do Sul um eleitorado mais favorável ao ex-Presidente, as hipóteses de Haley dependerão da capacidade de mobilizar o eleitorado moderado de uma forma histórica.
"Diria, neste momento, que ela tem mais hipóteses de o fazer por ser a única candidata e porque a dinâmica a dois é muito diferente de uma dinâmica a três ou quatro", indicou a professora.
"Tenho que admitir que estou impressionada com Haley", afirmou.
"Ela transmite uma energia genuína, que se tem visto também no apoio que vai recebendo", continuou. "Será suficiente? É provável que não. Mas que ela vai dar luta, vai".
Com Lusa