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O que é um míssil hipersónico que a Coreia do Norte afirma ter testado?

A Coreia do Norte diz ter disparado um novo tipo de míssil balístico hipersónico de médio alcance. Outros países estão a desenvolver este tipo de armas. O que é um míssil hipersónico e quem o tem - ou afirma ter.

Catarina Solano de Almeida

Ana Isabel Pinto

A Coreia do Norte anunciou que disparou na tarde de 14 de janeiro com sucesso um novo tipo de míssil balístico hipersónico de médio alcance e manobrável, um novo avanço tecnológico em armas que são difíceis de detetar e intercetar.

Este disparo, o primeiro por Pyongyang de um míssil balístico hipersónico de médio alcance (IRBM) de combustível sólido, foi detetado pela Coreia do Sul e pela China na tarde de domingo e hoje confirmado pela Coreia do Norte.

O disparo destinava-se a "verificar as capacidades de deslocação e de manobrabilidade", bem como "a fiabilidade do novo motor de combustível sólido", explicou a agência de notícias oficial norte-coreana KCNA, acrescentando que “nunca afetou a segurança de nenhum país vizinho e não tem nada a ver com a situação regional”.

Este teste surge num contexto cada vez mais difícil de relações entre Pyongyang e Seul, com o regime de Kim Jong Un a endurecer a sua posição. Na semana passada, o líder norte-coreano descreveu a Coreia do Sul como o “principal inimigo” da Coreia do Norte que ele não hesitaria em “aniquilar”.

O Ministério da Defesa da Coreia do Sul condenou o lançamento deste domingo e avisou que dará uma “resposta esmagadora” em caso de “provocação direta” de Pyongyang.

O que é um míssil hipersónico?

Um míssil hipersónico desloca-se a velocidades superiores a cinco vezes a velocidade do som (Mach 5), ou seja, mais de 6.100 km/hora.

Os mísseis hipersónicos são muito rápidos e ágeis, mas a principal característica que os torna muito mais difíceis de intercetar por sistemas de defesa antimísseis é o facto de poderem ser manobrados em pleno voo.

O tempo de voo é reduzido, pelo que diminui a probabilidade de serem intercetados. Alguns modelos podem carregar ogivas convencionais ou nucleares.

Quem tem (ou afirma ter) mísseis hipersónicos?

Vários países tentam desenvolver mísseis hipersónicos. Rússia, Coreia do Norte e Estados Unidos anunciaram em 2021 que tinham realizado testes, reacendendo os receios de uma nova corrida ao armamento.

Rússia

Em março de 2023, a Rússia lançou seis mísseis hipersónicos Kinzhal sobre a Ucrânia no âmbito da ofensiva contra a Ucrânia.

Além do Kinzhal, que já equipa a Força Aérea, a Rússia estará à frente com o desenvolvimento de vários tipos desses mísseis: o Zircon, que Moscovo anunciou a 7 de novembro de 2022 ter testado com sucesso a partir de um submarino e o planador hipersónico Avangard que, depois de lançado, pode carregar uma carga nuclear, voar até 33.000 km/h e mudar de forma imprevisível de rumo ou altitude.

Estados Unidos

Os Estados Unidos ainda não têm mísseis hipersónicos no seu arsenal, mas estão a trabalhar para isso. A Darpa, braço científico do exército americano, anunciou no início de março de 2023 que testou com sucesso seu míssil hipersónico HAWC (Hypersonic Air-Breathing Weapon Concept) com propulsão aeróbia, ou seja, usa oxigénio presente na atmosfera para a combustão.

O Pentágono também está a desenvolver o planador hipersónico chamado ARRW (pronuncia-se Arrow), mas o primeiro teste em grande escala falhou em abril de 2022..

China

A China tem vários projetos, que parecem ser inspirados em programas russos, de acordo com um estudo do Centro de Pesquisa do Congresso dos EUA (Congressional Research Service). Em particular, testou um planador hipersónico com alcance de 2.000 km capaz de voar a mais de Mach 5 e realizar “manobras extremas”, segundo este estudo.

Irão

O Irão anunciou em novembro de 2022 ter produzido o seu primeiro míssil balístico hipersónico, segundo o comandante da Força Aeroespacial da Guarda Revolucionária, Amirali Hajizadeh.

"Este míssil balístico hipersónico pode passar escudos de defesa antiaérea. Poderá passar por todos os sistemas de defesa antimísseis. Este míssil, que tem como alvo os sistemas antimísseis inimigos, representa um grande avanço no domínio dos mísseis Este sistema é muito rápido e é capaz de manobrar tanto dentro como fora da atmosfera".

Outros países

França, Alemanha, Austrália, Índia e Japão querem desenvolver sistemas hipersónicos e, segundo o Centro de Pesquisa do Congresso, Israel e Coreia do Sul já iniciaram pesquisas sobre a tecnologia.

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