O Conselho de Segurança das Nações Unidas deverá votar esta segunda-feira uma nova resolução a exigir o cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, por razões humanitárias. A votação surge poucas semanas depois de os Estados Unidos terem inviabilizado uma primeira resolução e numa altura em que o líder norte-americano, Joe Biden, já avisou Israel de que o apoio internacional na ofensiva contra o Hamas poderá estar a esgotar-se.
O texto desta nova resolução foi escrito pelos Emirados Árabes Unidos e exige “um cessar de hostilidades urgente e sustentável para permitir o acesso da ajuda humanitária à Faixa de Gaza de forma segura e sem obstáculos”.
Em linha com as negociações para um cessar-fogo, o secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, visita esta segunda-feira Israel, onde deverá ser discutido um calendário concreto para o fim das operações militares em Gaza.
Ainda assim, a última noite foi novamente marcada por ataques israelitas. Pelo menos 90 pessoas morreram num bombardeamento no campo de refugiados em Jabalia. Durante a noite, as forças de Israel terão também atacado uma maternidade em Khan Younis, onde uma menina de 13 anos morreu, segundo avançou o ministério da Saúde do Hamas.
Nestas incursões, o exército israelita terá descoberto um dos túneis usados pelos militantes do Hamas.
"Fome de civis como método de guerra"
Os apelos ao cessar-fogo em Gaza voltam a intensificar-se num dia em que a Human Rights Watch (HRW) acusou o governo de Israel de "utilizar a fome de civis como método de guerra" na Faixa de Gaza ocupada, o que constitui um crime de guerra.
"As forças israelitas estão a bloquear deliberadamente o fornecimento de água, alimentos e combustível, impedindo deliberadamente a assistência humanitária, aparentemente arrasando zonas agrícolas e privando a população civil de objetos indispensáveis à sua sobrevivência", escreveu a organização não-governamental (ONG) num comunicado.
A HRW notou que, desde o ataque do Hamas a Israel, a 7 de outubro, políticos israelitas, incluindo o ministro da Defesa, Yoav Gallant, o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, e o ministro da Energia, Israel Katz, "fizeram declarações públicas a expressar o objetivo de privar os civis em Gaza de alimentos, água e combustível".
Declarações que refletem "uma política que está a ser levada a cabo pelas forças israelitas", referiu-se na nota.
"Há mais de dois meses que Israel tem vindo a privar a população de Gaza de alimentos e água, uma política incentivada ou apoiada por altos funcionários israelitas e que reflete a intenção de matar civis à fome como método de guerra", constatou o diretor da HRW para Israel e Palestina, Omar Shakir.
Neste sentido, o responsável apelou aos líderes mundiais para se manifestarem "contra este abominável crime de guerra, que tem efeitos devastadores para a população de Gaza."
A HRW entrevistou 11 palestinianos deslocados em Gaza entre 24 de novembro e 4 de dezembro. Estes, segundo o comunicado, descreveram "profundas dificuldades em assegurar as necessidades básicas".
"Não tínhamos comida, nem eletricidade, nem Internet, nada", disse um homem que abandonou o norte de Gaza, a zona mais bombardeada pelo exército israelita desde que estalou o conflito.
No sul da Faixa de Gaza, os entrevistados falaram à ONG sobre a escassez de água potável, a falta de alimentos e os preços exorbitantes.
"Estamos constantemente à procura de bens necessários para sobreviver", notou um homem, que tem dois filhos.
O direito humanitário internacional, ou as leis da guerra, afirma-se ainda no comunicado, "proíbem a fome de civis como método de guerra".
Com agências