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"Esperança é pouca": civis em Rafah esperam autorização para atravessar fronteira

A esperança e fé existem, mas a cada dia que passam vão ficando cada vez menores. Apesar da ajuda humanitária estar a fluir melhor, com mais camiões a passar diariamente, ainda existe cidadãos com nacionalidade estrangeira que esperam escapar ao terror em Gaza.

Augusto Madureira

Rui Félix

A fronteira de Rafah foi esta manhã reaberta. Pela primeira vez, desde o início da guerra, os civis podem atravessar a passagem entre Gaza e o Egipto. Mas, para já, apenas é permitido aos feridos graves e aos cidadãos com passaporte estrangeiro. A operação está a ser mediada pelo Qatar.

Assim que a fronteira abriu, as ambulâncias foram as primeiras a passar entre Gaza e o Egipto. A prioridade é retirar os civis gravemente feridos pelos ataques israelitas e que os hospitais em Gaza já não têm condições para tratar.

O transporte é feito em ambulâncias egípcias e do Crescente Vermelho. Se se confirmarem as previsões, esta quarta-feira devem ser retirados de Gaza quase 90 feridos graves. Apenas uma ínfima parte dos milhares que estão entre a vida e a morte.

Do lado Egípcio da fronteira, armazéns e contentores estão prontos para receber os primeiros doentes e prestar-lhes assistência.

"Os voluntários e as equipas no Crescente Vermelho têm diferentes missões. Como podem ver, estão a distribuir assistência a armazéns especializados, Nós temos armazéns para equipamento médico e medicamentos que têm de ser armazenados a certas temperaturas", diz Mahmoud Gamal, do Crescente Vermelho.

A 50 quilómetros da fronteira, no Sinai do norte, o Egipto tem também preparados vários hospitais de campanha. Saem as ambulâncias de Gaza para o Egipto e entram mais camiões de ajuda, do Egipto para Gaza. Do lado egípcio, há centenas carregados à espera, sobretudo com medicamentos.

“Nós temos estado aqui há 15 dias, na fronteira de Rafah. Estamos a aumentar a pressão para que a ajuda humanitária possa passar para Gaza. Felizmente, a ajuda está neste momento a entrar mais frequentemente. Nós tínhamos 20 camiões a passar diariamente. Agora, temos 60 camiões que passaram, e também 60 ontem. A prioridade é que os medicamentos entrem para Gaza, dado que já vimos crianças a serem operadas sem anestesia”, explica Mohammed Rageh Mohammed, gestor da Fundação Masr Al-Kheir no Sinai.

Toda esta operação foi mediada pelo Qatar. Além dos feridos graves, prevê também a saída de Gaza, de cidadãos com passaporte estrangeiro ou com dupla nacionalidade.

As autoridades estimam que ao todo, no território, haja uns 7 mil. Esta quarta-feira, no entanto, devem passar apenas 500.

Manar tem passaporte da Jordânia, depois de cinco tentativas, espera finalmente conseguir passar a fronteira.

“Eu tenho esperança e fé em Deus, baseado no que me tem sido dito, mas esta esperança é pouca. São agora nove e cinco e não há sinais, mas se não for pela esperança não conseguimos sobreviver. A minha família está em Amman e estou aqui há um mês, cada dia à espera da morte, as casas à nossa volta estão destruídas. Da nossa família, existem 76 mártires”, lamenta Manar Farra, cidadão jordano.

Como Manar, há milhares de civis em Rafah a tentarem sair de Gaza. Muitos vão continuar à espera.

Os que passam a fronteira levam com eles, o pouco que lhes sobrou, de quase um mês de guerra.

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