Uma mulher israelita de 32 anos reencontrou o pai durante o ataque do Hamas à comunidade de Kfar Aza. Neta e Shimon Portal não se falavam há mais de seis anos, mas quando o grupo rebelde invadiu o kibbutz, foi o pai quem a salvou.
Deitada numa cama de hospital, Neta lembra o dia em que os rebeldes do Hamas invadiram a sua casa, disparando sobre ela e sobre o namorado, Santiago. Neta foi atingida com vários tiros nas pernas e na mão, conta a BBC, e o namorado também ficou com ferimentos.
Quando se apercebeu que os rebeldes do Hamas estavam a chegar ao kibbutz de Kfar Aza, Neta enviou uma mensagem ao pai, que é polícia em Israel. As três palavras deixaram Shimon Portal em sobressalto: “Eles estão perto.”
Shimon estava já numa troca de tiros com o Hamas, na cidade vizinha de Sderot. Enviou uma mensagem à filha, aconselhando-a a “trancar as portas” e depois esperou por uma nova resposta. Mas, durante algum tempo, não soube o que se passava.
Neta lembra que os membros do Hamas entraram nas casas das pessoas e dispararam sobre todos os que encontravam.
“Estavam a disparar sobre as pessoas. Estavam a disparar sobre as crianças. E as pessoas estavam a gritar ‘por favor, não, por favor, não’. Eu tentei acordar-me porque não queria morrer”, conta a jovem.
Santiago pediu a Neta que abrisse a janela e saltasse, mas a mulher viu “10 ou 15 terroristas” e ficou com medo. “Eles estavam num carro, com uma grande metralhadora, a fumar e a rir, como se estivesse de férias”, conta.
O namorado acabou por lhe agarrar a mão e saltaram juntos pela janela. "Os terroristas viram-nos e começaram a disparar sobre nós, como se fossemos nada”, conta. Neta voltou a ser atingida.
“O Santiago gritou: ‘Por favor levanta-te, começa a correr. Se não se levantas vamos morrer. Vamos morrer”, prossegue Neta.
Acabou por conseguir elevar a namorada e carregá-la até uma pilha de lixo, duas ruas ao lado, onde o casal se escondeu, tentando manter-se o mais silencioso possível.
“Pai, eles atingiram-me”
A segunda mensagem que recebeu de Neta deixou Shimon com o coração nas mãos: “Pai, eles atingiram-me. Ajuda.” O polícia não pensou duas vezes e prosseguiu em direção a Kfar Aza para salvar a filha.
“O meu coração parou. O meu cérebro entrou num turbilhão. E eu estava louco”, conta à BBC.
Ao chegar a Kfar Aza, num carro descaracterizado, os rebeldes do Hamas abriram fogo sobre o veículo. Shimon fez inversão de marcha, com as balas a atingir a parte de trás do carro, e fugiu.
Mas não desistiu: voltou novamente à cidade para uma segunda tentativa de salvar a filha. Na altura, Kfar Aza estava em silêncio e o polícia gritou pelo nome de Neta.
“De repente, três crianças correm em direção ao meu carro porque ouviram-me a gritar em hebraico. E eu abri a porta. Elas entraram para a frente, mas dois terroristas vieram das casa se dispararam contra nós”, lembra ainda Shimon.
Depois de ter salvado as três crianças, o polícia voltou ao kibbutz, seguindo a localização que Neta lhe tinha enviado. Acabou por a encontrar e, com a ajuda de Santiago – que também foi atingido na perna –, colocou-a na parte de trás do carro. Os três prosseguiram para o hospital mais próximo.
Neta está agora a recuperar dos ferimentos de balas que tem nas pernas e na mão. Ao seu lado tem o pai e o namorado, que não lhe larga a mão.
A felicidade do encontro entre pai e filha é substituída por uma sensação de raiva e tristeza. Ainda há muitas questões que Neta e a sua família não conseguem entender sobre o ataque do Hamas.
“Ela é uma filha da paz. Ela acredita apenas na paz e ela não percebe por que estão a matar crianças pequenas, por que queimam crianças pequenas no kibbutz”, diz o pai.
Depois deste episódio traumático, Neta quer que o exército israelita acabe de vez com o Hamas: “Querem a verdade? Eu não quero o Hamas mais na minha vida. Nós precisamos de os destruir um por um. Temos de ser fortes."