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"É incompreensível o rei de Marrocos ainda não ter acionado o apoio internacional"

Duarte Caldeira, presidente do Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil, critica a "incompreensível falta de prontidão" do rei marroquino após o sismo que fez mais de 2.000 vítimas mortais.

SIC Notícias

Duarte Caldeira, presidente do Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil, analisa como estão a ser geridos os trabalhos de busca e salvamento em Marrocos, após o sismo que devastou várias regiões do país e fez mais de 2.000 vítimas mortais.

Duarte Caldeira considera que neste momento "só há uma análise possível que causa perplexidade" que se prende com o facto de, "perante a dimensão desta catástrofe", o rei de Marrocos, Mohammed VI, ainda não ter acionado o apoio internacional.

Entende que é incompreensível, ao fim de mais de 80 horas da catástrofe, o país ainda não ter "aproveitado a ajuda" internacional disponível.

O monarca não estava no país no momento em que o sismo ocorreu, uma vez que se encontrava na sua mansão em Paris, desde o dia 1 de setembro. No entanto, no passado sábado, já em Rabat, capital marroquina, presidiu a uma reunião de emergência com vários funcionários de Estado.

Já no domingo, declarou três dias de luto nacional e apelou à realização de orações pelos mortos nas mesquitas de todo o país.

As “outras valências que são igualmente fundamentais”

Para além das operações de busca e salvamento, o presidente refere que há "outras valências que são igualmente fundamentais para a gestão de uma emergência desta envergadura".

“Em primeiro lugar, a necessidade de disponibilização de apoio alimentar, água potável e a questão da mortuária (…), o facto de a deterioração dos cadáveres poder provocar um adicional de risco às forças envolvidas, criando o risco de contraírem doenças provenientes dessa circunstância”, explica.

Destaca ainda a necessidade de aumentar o número de abrigos, uma vez que há muita população que ainda não conseguiu arranjar refúgio depois de ter ficado sem habitação.

Gestão de emergência “não pode ser condicionada por quaisquer limitações"

Duarte Caldeira aponta que uma gestão de emergência desta envergadura não pode ser condicionada por quaisquer limitações de ordem política, religiosa ou outra, já que o direito internacional determina que o a segurança das pessoas está para além de qualquer condicionamento que não seja o salvamento das vítimas.

Por esse motivo, vinca que "é de grande perplexidade e incompreensível que nestas horas, que são tão fundamentais para o salvamento de vidas, o reino de Marrocos ainda não ter acionado o apoio internacional amplamente disponibilizado por muitos países, muitos até com conflitos regionais".

Relativamente a uma eventual ajuda por parte de Portugal, o presidente do Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil, nota o histórico português em intervenções neste tipo de ocorrências e que o país tem equipas formatadas e valências para intervir na busca e salvamento. Garante que essas equipas estão preparadas para se juntarem aos trabalhos e que apenas aguardam a formalização do pedido de ajuda.

Ajuda de voluntários “não pode ser espontaneísta”

Duarte Caldeira explica ainda que a ajuda de voluntários é importante, contudo, "não pode ser espontaneísta":

“Isto é, ela (a ajuda de voluntários) tem de ser articulada e coordenada pelas autoridades locais que têm à sua responsabilidade a gestão desta emergência, (os voluntários) devem ser coordenados para locais determinados e identificados pela gestão da emergência e só depois é que devem deslocar-se para os locais para onde forem encaminhados”

O mais recente balanço aponta que o abalo, que se fez sentir na passada sexta-feira, fez, pelo menos, 2.122 mortos e 2.421 feridos.

O tremor de terra, cujo epicentro se registou na localidade de Ighil, 63 quilómetros a sudoeste da cidade de Marraquexe, foi sentido em Portugal e Espanha, tendo atingido uma magnitude de 7,0 na escala de Richter, segundo o Instituto Nacional de Geofísica de Marrocos.

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