O QUE OS ÚLTIMOS DIAS NOS MOSTRARAM
Se se confirmar que o duelo para a eleição geral, há tendências que vale a pena começar a notar. Olhemos para o que nos mostra a recente sondagem NY Times/Siena:
Biden tem de 22 pontos percentuais sobre Trump nos eleitores com estudos superiores. Mas nos eleitores de classe trabalhadora e sem estudos superiores Trump tem vantagem de 13 pontos.
Na eleição de 2020, entre os mesmos contendores, Biden teve vantagem de +18 entre o eleitorado com estudos superiores (menos quatro pontos que agora) e Trump só bateu Biden na "working class" sem estudo por 4 pontos (agora está muito melhor nesse índice).
Há quatro anos, Trump ganhou entre a classe trabalhadora em 35 dos 51 estados da União (incluindo em estados ganhos por Biden como Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia). Ora, não só não se prevê que Biden consiga recuperar esse eleitorado que, numa primeira análise, até lhe poderia ser favorável, como corre o risco de perder ainda mais terreno num segmento que, em cenário de eleição renhida, pode mesmo fazer a diferença.
TENDÊNCIA DEMOCRÁTICA
Joe Biden obterá a nomeação presidencial democrata para 2024, mas corre o risco de, enquanto Presidente incumbente, ver um adversário interno poder atingir um valor próximo dos 20%. Robert Kennedy Jr. acaba de receber o "endorsment" do ator Woody Harrelson. Tem também o apoio do co-fundador do Twitter, Jack DorseySobrinho de JFK e filho de Robert F. Kennedy (ex-procurador-geral e antigo candidato presidencial nas primárias democratas de 1968), ambos assassinados, Robert Kennedy Jr. é alguém que apresenta ideias esquisitas e pouco fundamentadas, quase sempre carregadas com teorias da conspiração mirabolantes. Está contra a ajuda americana à Ucrânia, diz que isso é mais um capítulo dos "interesses da indústria de armamento que o poder em Washington serve", chega a ter tiradas que se aproximam da propaganda do Kremlin. É anti-vacinas, alinha nas teorias de que o 5G serve para os chineses espiarem os EUA. Mais parece um sucedâneo uns anos mais novo e ligeiramente menos truculento de Donald Trump e cria embaraços ao "establishment" democrata.
O seu discurso, na verdade, é mais próximo do radicalista trumpista da ala direita do Partido Republicano do que os herdeiros democratas do clã Kennedy (não por acaso, o que resta da família Kennedy apoia Biden e não Robert Jr.). O diretor da campanha de Kennedy, o ex-congressista Dennis Kucinich (também ele um democrata marginal e mal-amado ao "core" do partido de Biden, Obama e dos Clinton), alega:
"A campanha de Kennedy é sobre o futuro, não sobre o passado. As pessoas na comunidade de tecnologia querem um presidente que seja voltado para o futuro, que queira expandir o papel dos EUA na tecnologia, que respeite a privacidade de dados e seja profundamente criativo em sua abordagem em relação ao governo".
TENDÊNCIA REPUBLICANA
Ron DeSantis dá sinais de vida no Iowa, mas ainda num cenário que não parece deixar em aberto uma viragem realista: Trump passou de uma vantagem que lhe dava o triplo das intenções de voto para um patamar que agora lhe oferece pouco mais que o dobro sobre o governador da Florida (44/20). Tudo o resto, para já pelo menos, é mesmo só paisagem na corrida republicana.
Está a ser um verão horrível para a campanha DeSantis. Ainda não é o baixar dos braços, mas começa a vigorar a ideia de que não é muito realista acreditar que será possível ultrapassar o super favorito Trump. Um exemplo Hugh Culverhouse (advogado, investidor e proprietário de terras no sudoeste da Flórida) doou 350 mil dólares a "SuperPac" de apoio a DeSantis "Never Back Down", mas indicou que não contribuirá com mais – a não ser que o candidato promova uma mudança de mensagem nesta campanha.
"O que ele fez na Flórida não chega para conquistar o resto do país", avisa o abastado (e agora reservado) apoiante de De Santis, em entrevista ao USA Today.
DeSantis tem noção da crise que a sua campanha atravessa há uns meses e tentou um "restart", demitindo funcionários para reduzir custos, fazendo mais entrevistas com os principais meios de comunicação e fazendo uma campanha agressiva nos estados de votação antecipada. Na passada terça-feira, substituiu o diretor de campanha, recorrendo a um assessor de confiança do gabinete do governador para tentar reverter o declínio.
Não deixa de ser impressionante: no dia seguinte às "midterm" de novembro passado, DeSantis era capa do New York Post com o título "The Future", logo após a reeleição espetacular com 19 pontos de avanço, para governador do Florida. Dez meses depois, e com uma liderança retumbante de Donald Trump, fica a sensação de que Ron DeSantis pode ter perdido a sua grande oportunidade.
UMA FRASE
"Apoio Ron DeSantis porque acho que ele é o candidato mais forte nesta corrida. Acabei de ver um nível de liderança e força que simplesmente ainda não tinha vista este ano"
(Steve Deace, apresentador de 'talk show' conservador do Iowa)
UMA SONDAGEM
REPUBLICANOS NO IOWA: Trump 44 / DeSantis 20 / Scott 9 / Ramaswamy 5 / Haley 4
(NY Times/Siena, 28 julho a 1 agosto)