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A história de uma amizade improvável entre um preso (inocente) e uma professora

Ginny Schrappe partilha a sua história porque acredita que pode inspirar outras pessoas a terem “uma mente mais aberta e a aceitar os outros”. Lamar esteve preso durante quase 30 anos por um crime que nunca cometeu. Ginny, que não o conhecia, nunca duvidou da sua inocência.

Twitter/Peter Schrappen

Larisa Tiurbe

A amizade define-se por uma ligação emocional que desenvolvemos com uma pessoa. Atualmente, recorremos a vários meios para alimentar esse sentimento. A vida de Lamar Johnson mudou radicalmente em 1994, quando tinha 21 anos, e foi injustamente acusado do assassinato do melhor amigo e sentenciado a uma pena perpétua.

Após oito anos atrás das grades, Lamar Johnson sentiu-se abandonado pela Justiça e precisava de apoio. É aqui que entra Ginny Schrappen, uma professora reformada, atualmente com 80 anos.

Os 20 anos que se seguiram desde a primeira em que as vidas de Lamar e Ginny se cruzaram foi a de uma amizade, que as grades não só não conseguiram deter como alimentaram, contornando o preconceito e a diferença de idades.

Uma amizade que está agora a ser vivida em liberdade. Em fevereiro deste ano, após 28 anos preso, Lamar Johnson não conseguiu conter as lágrimas quando um juiz do Estado norte-americano de Missouri ordenou a sua liberdade, conta o The Washington Post.

"Parecia que o peso de 28 anos estava lentamente a ser retirado", desabafou Lamar, de 49 anos.

Mas ele não foi o único que ficou feliz com a ordem do juiz. Ginny Schrappen, que nunca duvidou da inocência do amigo, saltou da cadeira com tanta alegria.

A professora reformada esteve presente na maioria das audiências de Lamar, enquanto este lutava durante quase três décadas para provar a sua inocência.

Quando a Justiça falha

Lamar Johnson sempre negou qualquer envolvimento no assassinato do melhor amigo, Marcus Boyd, em 1994. Logo no interrogatório, Johnson garantiu às autoridades que estava com a namorada no momento em que ocorreu o crime. No entanto, este testemunho foi ignorado.

Uma testemunha tê-lo-á identificado como um dos atiradores e, apenas com base nisso, foi condenado a prisão perpétua, sem ter possibilidade de liberdade condicional.

Anos mais tarde, os responsáveis pelo assassinato de Marcus Boyd confessaram o crime e garantiram que Lamar não esteve envolvido. Mas, mesmo assim, continuou preso e perdeu vários recursos em tribunais estaduais e federais.

A verdade surgiu por meio de um relatório divulgado em 2019, que denunciou a falsificação de provas pela polícia e procuradores. Além de redigir relatórios falsos, o Ministério Público de St. Louis pagou secretamente à testemunha para identificar Johnson como o atirador. Porém, o caso teve alguns contratempos e Lamar ainda permaneceu preso por mais quatro anos.

Como nasceu uma amizade por correspondência

À mercê de um sistema judicial que lhe falhou completamente, Lamar admite que estava em baixo. “Tinha a minha mãe e a minha irmã, mas elas não podiam dar-me toda a atenção de que eu precisava”, conta. Foi então que decidiu escrever cartas para igrejas à “procura de alguém que pudesse dar-lhe apoio e amizade”, apesar de não ser religioso.

Estava preso há já oito anos, quando um diácono da Igreja de Maria em St. Louis recebeu uma carta e passou-a a Ginny Schrappen, pedindo-lhe que encontrasse alguém que conseguisse responder a Lamar.

Ginny decidiu responder, mas não estava à espera de ficar impressionada com a caligrafia de Lamar. Como professora, Ginny detetou as habilidades linguísticas do jovem e conseguiu "ver imediatamente como era inteligente”.

Quando recebeu a resposta da professora, Lamar disse que ficou emocionado. E daí "em diante ela tornou-se uma fonte de apoio para mim".

Uma amizade improvável

A cada troca de correspondência, “as cartas tornavam-se mais profundas”, adianta Ginny, que nunca duvidou da sua inocência do jovem.

"Eu partilhei coisas com Lamar e ele partilhou coisas comigo, estávamos muito conectados. Eu ficava sempre feliz quando via uma carta dele na caixa de correio".

A correspondência era regular e Ginny tornou-se a “tábua de salvação” de Lamar. Ao longo dos anos, os amigos não se ficaram pelas cartas, Ginny deslocava-se à prisão para ver Lamar e, por vezes, falavam por telefone.

Esta amizade perdura e muitas barreiras foram ultrapassadas ao longo do tempo. As pessoas julgavam esta amizade improvável, mas isso nunca impediu Ginny de continuar a falar com Lamar.

Agora, a professora reformada espera que a história desta amizade improvável inspire outras pessoas a terem a mente mais aberta e a aceitar os outros, independentemente das circunstâncias em que se encontram.

“Entre em contacto com alguém que possa precisar de um amigo. Isso pode significar mais do que imagina”, aconselha Ginny.

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